25.3.07

Mouros e muçulmanos

É o mesmo?

A propósito de moedas visigóticas cunhadas no actual território português, escreve José Norton: «Dos muçulmanos, alguma coisa mais ficou, para além dos castelos, que geralmente se considera serem herança dos mouros» («Moedas visigóticas em Portugal», Expresso/Actual, 3.3.2007, p. 44). A pergunta que se impõe é: a distinção é técnica ou meramente literária? Isto é, usa o autor os termos «muçulmanos» e «mouros» apenas para não repetir um deles, ou é uma distinção técnica? Vejamos o que, a propósito da mesma matéria, escreveu Vasco Botelho de Amaral: «Lembrarei também o facto curioso de se designar com a palavra Mouros ou Moiros os Muçulmanos que estiveram dominando a Península. Propriamente, Mouros refere os naturais da Mauritânia, isto é, os da região do norte africano correspondente ao Marrocos actual na maior parte. Quando se deu a invasão da Península, além de Mouros propriamente ditos, outros invasores se contavam no número dos Muçulmanos, isto é, no número dos que, seguindo a doutrina do alcorão, por ela vinham conquistar o território hispânico. Nestas condições, a exactidão pediria que lhes chamássemos Muçulmanos, e não apenas Mouros.
Todavia, a palavra Mouros ou Moiros entrou para sempre na língua com o significado genérico de Muçulmanos.
O nosso povo, diante de ruína antiga, diz que “é do tempo dos Mouros”. E dizemos todos — moiras ou mouras encantadas, e não… muçulmanas encantadas, o que seria exacto, porém cómico» (A Bem da Língua Portuguesa, edição da «Revista de Portugal», Lisboa, 1943, p. 81).

3 comentários:

José Norton disse...

Gosrei muito. Assim se vê como conhecimento, rectidão e humor podem andar juntos. Obrigado.

Helder Guégués disse...

Caro José Norton
Só me fica bem, suponho.

Anónimo disse...

Excelente.