9.4.08

Acordo Ortográfico

Consonantização

Segundo o jornal Meia Hora, Vasco Graça Moura terá afirmado anteontem na Assembleia da República que «“a aplicar-se o acordo, não tardará a dar-se a supressão na grafia — e portanto também na pronúncia — das consoantes ‘c’ e ‘p’ nos casos em que continuam a ser pronunciadas ou semiarticuladas em Portugal”» («Opositores do Acordo Ortográfico têm “comportamentos autistas”», Maria Nobre, Meia Hora, 8.4.2008, p. 4).
Já Fernando Venâncio, no Expresso/Actual de sábado passado, escrevera: «Dá-se, no nosso português, desde há séculos, um lento processo de fechamento (os linguistas falam em elevação) das vogais que, num vocábulo, precedem a sílaba tónica. Veja-se como pronunciamos “despertador”, “adormecer”, “metamorfosear”, e como os pronuncia um brasileiro. Este processo de obscurecimento e consonantização da nossa fala vai seguramente prosseguir. E uma coisa parece certa: o novo Acordo Ortográfico vem dar-lhe um valente empurrão.» A conclusão, porém, admite matizes de tendência, no que coincide com a minha opinião: «Daqui a anos, num mesmo jornal, na mesma página, um jornalista escreverá “cepticismo”, “intelectual”, “característico” e o colega “ceticismo”, “inteletual”, “caraterístico”» («Caro Acordo», p. 60). O mesmo é dizer, continuará a ser um processo lento, demorará gerações. E, se o fenómeno já vem de trás, não podemos atribuir a culpa ao Acordo Ortográfico de 1990.

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