Calão (sem sugestões)
Em 2002, a propósito do lançamento do corrector ortográfico FLiP 4, escrevia Fernando Venâncio no Expresso: «Há cerca de dez anos, uma fotografia mostrava Vasco Pulido Valente à mesa de trabalho, frente ao computador. À mão, via-se o Dicionário de Sinónimos da Porto Editora. Uma indiscrição do fotógrafo? Não, pura seriedade profissional do retratado. Alguém que é visto, repetidamente, como um brilhante prosador recorria, afinal, às mesmas ferramentas que o humilde paisano» («Fiel companheiro», 19.10.2002).
Lembrei-me hoje deste texto quando lia a crónica de José Diogo Quintela no Público, que também fala de corrector ortográfico (no caso, o spell check do Windows). Escreve ele: «Em termos linguísticos, sou um arrivista. Quero parecer mais do que sou. Uso o dicionário de sinónimos com destreza e misturo-me com os fluentes na língua que, por momentos, me tomam por um deles. Só que depois escrevo qualquer coisa à mão e, sem o protector risquinho encarnado (que ainda agora me chamou a atenção para botar outro “r” em “arivista”) a corrigir-me, sou desmascarado» («Língua bífida», José Diogo Quintela, Público/P2, 20.4.2008, p. 3).
Dizia ainda Fernando Venâncio: «Uma parte considerável dos nossos “erros de ditado” tem, de facto, a ver com a acentuação. As suas regras são, em português, praticamente perfeitas, mas de uma complexidade descoroçoante. Resultado: mesmo os melhores jornais e editoras grafam com frequência “saíu” e “caíu”.» Infelizmente, pouco mudou — e o FLiP, que não é agora meramente um corrector ortográfico, mas também sintáctico, já vai na sexta versão —, e de nada serve quando se pintam cartazes para manifestações.
Num comentário, datado de 22 de Outubro de 2007, a um post do Aspirina B, Fernando Venâncio mostrou continuar encantado com as potencialidades deste corrector: «JP: O corrector ortográfico e sintáctico da Priberam, o novinho em folha FLiP 6, o melhor do Mundo para o Português (adoptado no Brasil, na sua versão brasileira), aceita, do teu texto, “hein” e “pimba”. Mas lá está: não conhece “porra”. Como também não conhece “puta”, e daí para baixo.
Explicaram-me a razão, e essa vai soar-te como música de anjos.
A colaboração com a Microsoft (que adoptou no Word o trabalho da Priberam) implicou a exclusão de tudo o que levasse a sinonimias, aos olhos americanos, rapidamente lascivas, ou licenciosas. Sim, que sinónimos indicar para “puta”, para “porra”?
A magnífica Priberam escolheu o que tu escolherias se tivesses que pôr também o pãozinho na mesa dos empregados.»
Se copiar este texto e vir aparecer o risquinho encarnado sob a palavra «sinonimias», nada tema: é que «sinonimia» é uma variante de «sinonímia». Está é a precisar de um novo corrector ortográfico. Afinal, como dizia Trotsky, «a atenção deve dirigir-se para os pormenores».
Em 2002, a propósito do lançamento do corrector ortográfico FLiP 4, escrevia Fernando Venâncio no Expresso: «Há cerca de dez anos, uma fotografia mostrava Vasco Pulido Valente à mesa de trabalho, frente ao computador. À mão, via-se o Dicionário de Sinónimos da Porto Editora. Uma indiscrição do fotógrafo? Não, pura seriedade profissional do retratado. Alguém que é visto, repetidamente, como um brilhante prosador recorria, afinal, às mesmas ferramentas que o humilde paisano» («Fiel companheiro», 19.10.2002).
Lembrei-me hoje deste texto quando lia a crónica de José Diogo Quintela no Público, que também fala de corrector ortográfico (no caso, o spell check do Windows). Escreve ele: «Em termos linguísticos, sou um arrivista. Quero parecer mais do que sou. Uso o dicionário de sinónimos com destreza e misturo-me com os fluentes na língua que, por momentos, me tomam por um deles. Só que depois escrevo qualquer coisa à mão e, sem o protector risquinho encarnado (que ainda agora me chamou a atenção para botar outro “r” em “arivista”) a corrigir-me, sou desmascarado» («Língua bífida», José Diogo Quintela, Público/P2, 20.4.2008, p. 3).
Dizia ainda Fernando Venâncio: «Uma parte considerável dos nossos “erros de ditado” tem, de facto, a ver com a acentuação. As suas regras são, em português, praticamente perfeitas, mas de uma complexidade descoroçoante. Resultado: mesmo os melhores jornais e editoras grafam com frequência “saíu” e “caíu”.» Infelizmente, pouco mudou — e o FLiP, que não é agora meramente um corrector ortográfico, mas também sintáctico, já vai na sexta versão —, e de nada serve quando se pintam cartazes para manifestações.
Num comentário, datado de 22 de Outubro de 2007, a um post do Aspirina B, Fernando Venâncio mostrou continuar encantado com as potencialidades deste corrector: «JP: O corrector ortográfico e sintáctico da Priberam, o novinho em folha FLiP 6, o melhor do Mundo para o Português (adoptado no Brasil, na sua versão brasileira), aceita, do teu texto, “hein” e “pimba”. Mas lá está: não conhece “porra”. Como também não conhece “puta”, e daí para baixo.
Explicaram-me a razão, e essa vai soar-te como música de anjos.
A colaboração com a Microsoft (que adoptou no Word o trabalho da Priberam) implicou a exclusão de tudo o que levasse a sinonimias, aos olhos americanos, rapidamente lascivas, ou licenciosas. Sim, que sinónimos indicar para “puta”, para “porra”?
A magnífica Priberam escolheu o que tu escolherias se tivesses que pôr também o pãozinho na mesa dos empregados.»
Se copiar este texto e vir aparecer o risquinho encarnado sob a palavra «sinonimias», nada tema: é que «sinonimia» é uma variante de «sinonímia». Está é a precisar de um novo corrector ortográfico. Afinal, como dizia Trotsky, «a atenção deve dirigir-se para os pormenores».
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