Vai um dicionário?
«No Estabelecimento Prisional Especial de Santa Cruz do Bispo, em Matosinhos, misturam-se as línguas, os sotaques. A grande maioria veio de Portugal, de Espanha, da América Latina ou de um dos países africanos de língua oficial portuguesa. Henna não. Henna é uma holandesa de 53 anos que fala neerlandês e arranha inglês. Estava mal-amanhada não fosse Maria Cruz, que nasceu em Cabo Verde e se mudou para a Holanda aos 12 anos» («A solidão aperta mais quando a língua escapa», Ana Cristina Pereira, Público, 21.4.2008, p. 3). «Mal-amanhada»? Mal-amanhado significa mal-arranjado, desajeitado, desordenado. De uma pessoa que está mal vestida pode dizer-se que está mal-amanhada. E de uma frase também. Convinha, para não ficarmos malvistos, e os leitores mal servidos, vermos o que significam as palavras.
«No Estabelecimento Prisional Especial de Santa Cruz do Bispo, em Matosinhos, misturam-se as línguas, os sotaques. A grande maioria veio de Portugal, de Espanha, da América Latina ou de um dos países africanos de língua oficial portuguesa. Henna não. Henna é uma holandesa de 53 anos que fala neerlandês e arranha inglês. Estava mal-amanhada não fosse Maria Cruz, que nasceu em Cabo Verde e se mudou para a Holanda aos 12 anos» («A solidão aperta mais quando a língua escapa», Ana Cristina Pereira, Público, 21.4.2008, p. 3). «Mal-amanhada»? Mal-amanhado significa mal-arranjado, desajeitado, desordenado. De uma pessoa que está mal vestida pode dizer-se que está mal-amanhada. E de uma frase também. Convinha, para não ficarmos malvistos, e os leitores mal servidos, vermos o que significam as palavras.
6 comentários:
Nos Açores, onde é muitíssimo usado, mal-amanhado pode significar também qualquer coisa como "desgraçado"...
Suponho que em Cabo Verde também possa ser assim, e que a jornalista se tenha limitado a usar a mesma palavra que ouviu. Os falantes não têm sempre razão?
Está a confundir com os clientes.
Eu acho que sempre ouvi dizer 'mal-amanhado' com o sentido que o texto lhe dá... Mas talvez seja porque também não sou de Lisboa e só em Lisboa é que se fala português 'de dicionário'.
Há a suspeita, já vários leitores me mandaram mensagens, de que se trata de um regionalismo. E é legítimo um jornalista usá-los — desde que o sentido seja inequívoco, o que não me parece seja o caso. Agora imagine um jornalista a escrever «caço» ou «cace», «alvenéu», «belheira», «caliqueira», «canorço», «corróbia», «destalheira», «genra», «lume de chão», «muginar», «orear», «tarraço», etc. Será que o leitor comum compreenderia? Duvido. Afinal, a jornalista não está a escrever apenas para os Algarvios ou para os Açorianos. Trata-se, reparou?, de um jornal nacional.
Apesar de tudo, qualquer falante pode ler ali um «Estava bem arranjada [se] não fosse Maria Cruz», em que esta expressão é uma figura de estilo qualquer por oposição a «mal-amanhada»...
Qualquer falante pode adivinhar, supor, alvitrar, aventar a hipótese.
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