31.5.08

Nova ortografia

Protesto? Não parece.



      O semanário Independente de Cantanhede decidiu comemorar o seu 14.º aniversário com uma edição, a de 28 de Maio, totalmente redigida segundo o Acordo Ortográfico de 1990. «Com base nas regras», avisam, «apresentadas no livro “Atual — O novo acordo ortográfico”, de João Malaca Casteleiro e Pedro Dinis Correia, publicado pela Texto Editora.» Se é assim, o jornal poderá ter reproduzido alguns erros.
      É uma forma bonita de dar as boas-vindas às novas regras. Ah, não? Afinal, é um protesto: «A equipa redactorial teve a feliz ideia de apresentar a primeira edição de aniversário (a segundo será na próxima semana) com os textos escritos de acordo com as futuras regras de ortografia, saídas de um acordo que ocupou os tempos livres de muitos dos nossos agentes culturais e que, à luz do nosso entendimento, era de todo desnecessário. E se por acaso o não fosse, não consigo entender porque há-de ser a língua mãe a aproximar-se dos facilitismos brasileiros, afastando-se da sua própria raiz latina que lhe deu vida, a suportou e cultivou durante séculos. Não virão longe os tempos em que, escreva-se como se escreva, está tudo certo. É a própria Cultura a ceder aos interesses», escreve o director-adjunto do semanário, Lino Vinhal, no editorial. Como protesto não se percebe, pois o jornal continua, pese embora a adopção das regras do Acordo Ortográfico de 1990, legível. Como suspeitávamos…
      Nesta mesma edição, o Independente de Cantanhede decidiu também divulgar o seu «Pequeno Livro de Estilo», que contém regras que tomaram todos os jornais. Cito somente, pelo interesse que pode ter para os meus leitores, os «Princípios e regras gerais»:
      «Os textos do Independente de Cantanhede têm habitualmente antetítulo, título, entrada, “lead” e subtítulo. Um ou mais destes elementos podem, no entanto, ser omitidos voluntariamente, até porque, por página, apenas um texto apresenta entrada.
      Todos os textos, sem exceção, devem ser redigidos com clareza, simplicidade e exatidão, respeitando escrupulosamente as regras da Língua Portuguesa.
      Os textos de opinião devem ser bem identificados como tal.
      São assinados todos os textos que resultem do trabalho de recolha dos seus autores.
      Não são assinados os textos comerciais, nem os que resultem de comunicados de imprensa enviados à redação.
      Os números até nove deverão ser grafados por extenso e só a partir de 10 se usarão algarismos.
      As horas devem ser grafadas segundo a norma 15H30 e não 15.30h, 15.30 ou 15h30m.
      As datas são escritas por extenso. Hoje, por exemplo, é dia 28 de maio de 2008.
      Os cargos políticos ou administrativos são grafados com iniciais em caixa baixa, com exceção do Presidente da República.
      “Governo” escreve-se com maiúscula, mas “primeiro-ministro”, “ministro”, “secretário de Estado”, “presidente da Câmara” e as demais formas de tratamento escrevem-se com minúscula.
      As citações de declarações ou de documentos são grafadas entre aspas.»

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