24.6.08

À custa de, outra vez

Lord have mercy!


      O líder da Comunhão Anglicana, Rowan Williams, arcebispo de Cantuária (topónimo que, felizmente, caiu nas boas graças dos jornalistas, que nunca usam Canterbury), está a ser criticado na Conferência Global para o Futuro Anglicano (GAFCON), a decorrer em Jerusalém. O Meia Hora dá alguns pormenores: «Os líderes africanos acusaram ainda Williams de “incapacidade” de unir os anglicanos e de adulterar a Bíblia. Num folheto dado aos conferencistas lia-se: “Queremos união, mas não às custas de reescrever a Bíblia para satisfazer as mais recentes modas culturais”» («Casamento gay ameaça cisão», Margarida Caseiro, Meia Hora, 24.3.2008, p. 7).
      Se o comunicado estivesse escrito em português, não valia a pena dizer nada. A culpa seria dos conferencistas. Assim, diga-se que «às custas» está errado. Deve dizer-se «à custa de». Custas só as judiciais. Lia-se no referido folheto: «We earnestly desire the healing of our beloved Communion, but not at the cost of re-writing the Bible to accommodate the latest cultural trend.» Até o pior dicionário inglês-português regista que a locução at the cost of se traduz pela locução prepositiva «à custa de», já registada em 1712 no Vocabulário Português e Latino, do padre Rafael Bluteau. Só no plural, costs, o vocábulo (e não já a locução) se refere ao Direito e, logo, terá como tradução «custas». Dois exemplos de uso deste dicionário: «Fizerão as suas exequias à custa do Publico» e «Se anda elle cheyroso, he à minha custa.»


Sem comentários: