2.8.08

Uso das maiúsculas

Frases urgentes e destravadas

Isabel Coutinho entrevistou Valter Hugo Mãe para a Ípsilon. A determinada altura, a jornalista diz ao escritor que de certeza que aprendeu a escrever na escola primária com «letra grande», mas que «mais tarde, as minúsculas desaparecem dos seus textos». Resposta: «A dada altura percebi que as maiúsculas ligam o texto, aceleram-no, precipitam o leitor. As vírgulas ficam menos virguladas e os pontos menos pontuados. Então as pausas tendem a ser mais breves. Há uma aceleração que se junta a uma certa urgência da história. O leitor fica sem travões.» Isabel Coutinho pergunta (e era a minha curiosidade): «Tem tido reacções de leitores? Dificulta-lhes a leitura?» «Ao que sei», responde o entrevistado, «no início, a primeira reacção é um choque. As pessoas ficam aflitas, não sabem onde parar, não percebem onde a frase acabou. Mas o leitor menos preguiçoso habitua-se ao fim de quatro páginas e consegue deslizar. Consegue seguir naquela leitura com menos travões com alguma destreza. Fica contente quando percebe que este tipo de pontuação o leva mais rápido ao fim da história» («O escritor que não usa maiúsculas para o leitor ficar sem travões», Público/Ípsilon, 1.08.2008, p. 8).

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