8.9.08

Legendagem

Bah

Na comédia romântica As Leis da Atracção (Laws of Attraction, de 2004), que ontem à tarde passou na TVI, há várias cenas de tribunal. Numa delas, entre réplicas, tréplicas, perguntas e respostas, lê-se a determinada altura nas legendas: «Meirinho!» Talvez tenha sido a juíza Abramovitz a gritar («Marshal!»?), não sei. A tradutora, Sara David Lopes, não tem estado certamente na Terra nos últimos tempos. (E não há revisão das legendas, como a não há da edição de Internet dos vários meios de comunicação. O público, bah, não merece tais luxos...) O primeiro meirinho-mor, que tinha à sua disposição outros meirinhos (do latim majorinu, diminutivo de major, maior), surgiu com o rei D. Afonso II. É uma figura que, entretanto, ficou pelo caminho da História. Agora temos os oficiais de justiça, nas suas diversas categorias (escrivão de direito, escrivão-adjunto e escrivão auxiliar; técnico de justiça principal, técnico de justiça-adjunto e técnico de justiça auxiliar) e carreiras (judicial e do Ministério Público).
Esta era uma película delico-doce, claro. Os autênticos filmes de tribunal (court movies, na designação norte-americana) são, para mim, o género preferido. Ainda me lembro de ter visto na Cinemateca Testemunha de Acusação (Witness for the Prosecution, 1957), com o magnífico Charles Laughton, Marlene Dietrich, Tyrone Power, entre outros.

10 comentários:

Ralf Wokan disse...

Prezado Helder,
obrigado "pelas asas" !
Os meirinhos avisaram os culpados....
Uma razão mais para ser orgulhoso português.
Encontrei as ordenações do bispo de Evora do ano 1598:http://briefeankonrad.blogspot.com/2008/09/anforderungsprofil-fr-einen-meirinho.html

Consegue deciffrar "Fará tetmo" ?
O que era um "tetmo" ?
obrigado
Ralf

Anónimo disse...

Se a tradutora não tem estado na Terra nos últimos tempos, pelos vistos o senhor não tem estado em Portugal! "Revisão de legendas"? Com muitos dos filmes a chegarem num dia e terem de estar traduzidos e legendados um ou dois dias depois, como infelizmente vai sendo a norma? E as traduções pagas a cerca de 1/5 do valor pago em outros países? Onde julga o Sr. Guégués que está, na Europa?
Quanto à crítica pela tradução, e sem ser o mandatário da Sara David Lopes para lhe responder, não sei se terá sido o caso, mas como "meirinho" é bem mais curto que "escrivão auxiliar", talvez ela tenha usado o termo por economia; é que as traduções de audiovisuais estão condicionadas pelo tamanho de legenda/tempo de exposição.
Elísio Correia Ribeiro

Helder Guégués disse...

É a abreviatura de «testemunho».
Um abraço.

Helder Guégués disse...

Com que então, é por ser mais curto? E só faltava aqui (já ouvi noutros sítios) o argumento de que é mal pago. Se é mal pago, fazemos mal, é isso?

Anónimo disse...

Eu não disse que é por ser mais curto, mas sim, "não sei se terá sido o caso".
E não, "como é mal pago não fazemos mal"; apenas, para ser rentável, não há hipótese de se ter muitas vezes o cuidado que se desejaria.

Helder Guégués disse...

Como eu não sugeri «escrivão auxiliar». Bastava «escrivão», vocábulo que tem precisamente o mesmo número de letras, oito, de «meirinho».

Anónimo disse...

Há dias tive oportunidade de ver um filme que saiu com o Correio da Manhã. Nas legendas havia de tudo: districto, falás-te...
Se tivesse sido eu a comprar o jornal com o filme tinha enviado um dicionário ao(à) tradutor(a).

Anónimo disse...

Caro Ricardo, faça um favor a si próprio e a todos nós: insurja-se, proteste, barafuste, queixe-se, telefone escandalizado... As editoras querem lá saber da qualidade das traduções e do português porque, à boa maneira portuguesa, nós só sabemos protestar à mesa do café e não junto de quem de direito. Se depender delas, desde que haja uma legenda no ar, está tudo bem. Portanto... ligue ao Correio da Manhã! Por favor.

Xantipa disse...

Provavelmente o que foi dito foi «bailif», que se ouve muito nesses filmes, e que os dicionários dizem ser «meirinho». Mas esse anacronismo da tradutora até passa... pior foi ver (noutro programa) o Juramento de Hipócrates (ou hipocrático) ser traduzido por Juramento Hipócrito.

Rute disse...

Penso que há ainda outra questão na opção de traduzir "bailiff" por meirinho. Penso (e se não for assim, perdoem a ignorância)que a função desempenhada pelos "bailiffs" nos tribunais americanos é desempenhada pela polícia nos tribunais portugueses. Logo, não há uma tradução directa para o termo e parece-me que meirinho é um bom compromisso.