No mundo do futebolês
Uma aluna perguntou-me ontem como se escrevia: «primo-divisionário» ou «primodivisionário»? É que, argumentou, não encontrara em nenhum dicionário. Tanto quanto sei, não se encontra registado em nenhum dicionário. Usei a analogia para demonstrar como se devia grafar. Em termos morfológicos, a palavra que me ocorreu foi «veterotestamentário», constituída pelo elemento vetero- (do latim vetus, vetĕris, «velho») e pelo adjectivo «testamentário», «relativo a testamento». A MorDebe, comprovei agora, regista «primodivisionário».
Uma aluna perguntou-me ontem como se escrevia: «primo-divisionário» ou «primodivisionário»? É que, argumentou, não encontrara em nenhum dicionário. Tanto quanto sei, não se encontra registado em nenhum dicionário. Usei a analogia para demonstrar como se devia grafar. Em termos morfológicos, a palavra que me ocorreu foi «veterotestamentário», constituída pelo elemento vetero- (do latim vetus, vetĕris, «velho») e pelo adjectivo «testamentário», «relativo a testamento». A MorDebe, comprovei agora, regista «primodivisionário».
A imprensa desportiva, como se sabe, abusa do termo. A propósito, o Livro de Estilo do Público adverte: «futebolês — Uso sistemático de expressões-muleta, algumas ridículas, que redundam numa linguagem pobre e estereotipada, quando se escreve sobre futebol. Use-se uma linguagem mais variada e que mais leitores compreendam. Não se escreva, por exemplo: “apostado em ganhar”, “direccionar”, “denotar sentido de baliza”, “progressão”, “denunciar fome de bola”, “intenção de flanco”, “impedido de penetrar na área adversária”, “faltou objectividade atacante”, “moldura humana”, “muita ofensividade”, “milita nos escalões cimeiros”, “averbar uma clamorosa derrota”, “primodivisionário”, "contra-ataque venenoso”, “postura em campo”, “posicionamento”, “trabalho ao nível do entrosamento”, “tirar do caminho da bola”, “tapete verde”.»
2 comentários:
Tirando lição do que escreveu em 13/10, sob o título "Meso?", seria levado a escrever "primo-divisionário" e "vetero-testamentário".
Para o leitor comum (menos pomposamente: para quem isto escreve) parece haver um excesso de aglutinações, com prejuízo para a própria compreensão dos termos, pela perda de identidade dos elementos que os compõem. E também haverá perda de sonoridade das palavras assim formadas.
Talvez, mas foi a existência do hífen que levou o jornalista a ler incorrectamente a palavra em questão. Por outro lado, só estas últimas — primodivisionário e veterotestamentário — é que têm tudo em comum.
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