1.4.09

Grafia dos nomes próprios

Questão homérica

Ao ler agora o texto «Ruy, a Águya de Haya», que faz parte da obra What língua is esta?, de Sérgio Rodrigues (Gradiva, 2009), não pude deixar de pensar no leitor Pedro Bingre e na acusação de que eu também dormitei, qual Homero. Quandoque bonus dormitat Homerus. Felizmente já estou habituado a elogios, caso contrário poderia fazer-me mal ser comparado a um génio. Só uma coisa me desagrada na comparação: Homero, e Pedro Bingre, professor na Escola Superior Agrária de Coimbra, não há-de ignorá-lo, poderá nunca ter existido. Mas voltando a Sérgio Rodrigues. Resumo o texto: os descendentes de Rui Barbosa (este sim, um génio) querem recuperar o ípsilon que ele perdeu na reforma ortográfica de 1943. Escreve Sérgio Rodrigues: «Como se sabe, a lei de 1943, regulamentada por decreto presidencial dois anos e meio depois, foi prontamente acatada nos dicionários, nas escolas, na imprensa, por todo lado. Nos cartórios é que não houve jeito de pegar. O professor Celso Pedro Luft admite, em seu Novo guia ortográfico, que “a tradição entre nós (…) tem contrariado a lei”. Tem mesmo, e como. Uma discreta mas tenaz desobediência civil acabou se impondo na questão dos nomes próprios. Vez por outra, algum escrivão radical ainda tenta fazer valer o manual, mas a causa parece perdida. Luiz Inácio Lula da Silva, para citar um exemplo ilustre, se insere nessa tradição de contrariar a lei de 1943, segundo a qual todo Luís deveria ser escrito com s e acento» (p. 180).

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