13.5.09

O uso do apóstrofo


A propósito…



      Numa edição da semana passada do Diário do Minho, que já aqui passou pelo Assim Mesmo, li que se realizou na Universidade do Minho, nos dias 9 e 10 do corrente, a 6.ª edição do Congresso Internacional de Optometria e Ciências da Visão (CIOCV). O artigo, que não está assinado, assegura que «todo o programa do CIOCV’09 está pensado para proporcionar ao optometrista clínico mais e melhores competências para dar resposta aos desafios que se lhe colocam», convicção que não nos interessa. Mas quanto a «CIOCV’09»? Esta moda de usar o apóstrofo para suprimir metade da data ter-se-á tornado notória, entre nós, com a Exposição Mundial de Lisboa de 1998. Questionou-se então a adequação do uso deste sinal diacrítico para este fim e onde deveria ficar e se deveria haver espaçamento (Expo’ 98, Expo ‘98, Expo ‘ 98 ou Expo’98). Como se pode ver na imagem, oficialmente, grafou-se Expo’98. Há, é verdade, abreviação numérica como há abreviação vocabular. Até há uns anos, era relativamente vulgar ler-se e sobretudo ouvir-se referir datas omitindo a casa dos milhares. Alguém nascido em 1939, por exemplo, dizia que nascera em «939» (e pronunciava «nove, trinta e nove»). Na indicação das décadas, «década de 80», também há, de alguma maneira, abreviação. E, em qualquer dos casos, nunca se usa apóstrofo. Pela mesma ordem de ideias, creio que também se não deve usar nestes casos. Logo, eu escreveria CIOCV 09.


Actualização em 30.05.2009

      Afinal encontrei um exemplo em contrário: numa nota de António Sérgio às Odes Modernas de Antero de Quental: «Por via de regra, os liberais de todos os países da Europa interessaram-se pela causa da independência da Polónia, por ocasião das revoltas de 1830 e ’63» (Odes Modernas, Antero de Quental. Edição fac-símile da edição organizada, prefaciada e anotada por António Sérgio [1943], Sá da Costa Editora, 2009, p. 173). «Os radicais prepararam durante alguns anos um novo movimento insurreccional, que veio a rebentar em ’63» (p. 174).



3 comentários:

Alberto Martinet disse...

Prezado Professor,

Não faço ideia de como terá sido pronunciada a abreviatura EXPO’98. Espô? Ecspô? Espó? Ecspó?

Caso o povo tenha optado pela vogal aberta (Espó ou Ecspó), imagino que essa preferência possa ter sido ditada pela presença do apóstrofo, quiçá tomado por alguns como acento agudo. Acha possível?

Cordialmente

Helder Guégués disse...

Na altura, houve uma grande controvérsia sobre como se pronunciar o termo «expo». Não creio, contudo, que o uso do apóstrofo tenha contribuído para a forma como se leu.

Unknown disse...

Boa pergunta, eu vou ver se encontro alguma coisa no Ciberdúvidas. Quanto à pronúncia, eu diria «eispò», com a sílaba tónica no início, mas com o o aberto. Já agora, noto que o Sr. Prof. fez um pequeno erro no seu artigo; é insignificante, mas vale sempre a pena corrigir: o símbolo ’ pode representar duas coisas: um apóstrofo, ou as aspas curvas únicas (‘ e ’). O programa que usou para escrever o texto percebeu que, depois da palavra «Expo», devia haver um apóstrofo, mas depois de um espaço, como em «Expo ’98», o programa foi “esperto”, e pensou que estava a começar uma citação, logo «Expo ‘98», o que está errado.