10.5.09

«País-membro»?

Falemos disto


      «Organização Mundial de Saúde (OMS) pediu aos países-membros que activem os seus planos contra a epidemia da gripe suína, depois de ter elevado para cinco o nível de alerta pandémico da doença, o segundo mais grave» («OMS aumenta nível de alerta para pandemia de gripe suína», Global Notícias, 30.04.2009, primeira página). De vez em quando, lê-se, sobretudo na imprensa, o vocábulo composto país-membro (geralmente no plural, países-membros). Está correcto escrever assim, com hífen? Só conheço uma obra que aborda a questão: o Manual de Redação e Estilo de O Estado de S. Paulo, de Eduardo Martins (São Paulo: Editora Moderna, 3.ª ed., 1997), nas páginas 176 e 274: «Membro. Use como adjetivo quando vier depois de um substantivo: país membro, estados membros.» «Substantivo mais substantivo. Quando dois substantivos se unem na frase formando um conjunto, podem ocorrer duas situações:
      1 — O segundo modifica o primeiro com a função de adjetivo, dispensando, por isso, o hífen. Exemplos: funcionários fantasmas, rádio pirata, formiga gigante, torneio relâmpago, garoto prodígio, país membro, camisa esporte, marca recorde, fita cassete, usina piloto, concentração monstro.
      2 — O segundo representa uma superposição em relação ao primeiro e por isso o hífen se impõe: elemento-surpresa, atleta-sensação, mulher-maravilha, criança-fenômeno, papel-título, desconto-padrão, imagem-síntese, preso-problema, disco-solo, país-símbolo, linguagem-modelo, posto-chave, carro-bomba, mandato-tampão, torneio-incentivo, torneio-início, homem-máquina, personagem-tipo, ponto-limite, público-alvo, salário-base, homem-hora, garoto-propaganda, edifício-sede, auxílio-maternidade, hora-aula, carnê-leão, almoço-homenagem, vale-transporte, caderneta-pecúlio, cidade-porto, empréstimo-ponte, carro-pipa, país-continente
      Bem, não concordo. Pegando no exemplo mais flagrante, «estados membros», é óbvio que vai contra o uso português e contra uma lógica que me parece irrebatível: uma vez que as duas palavras (e é claro que «Estado» é com maiúscula) formam inequivocamente um todo com significado próprio, o hífen impõe-se. Por analogia, não vejo como negar que país-membro também deve levar hífen. Naturalmente que, pela nossa pertença à União Europeia, o vocábulo Estado-membro passou a fazer parte do nosso quadro linguístico, ao passo que país-membro é relativamente raro, de onde advirá a estranheza que os falantes poderão sentir ao lê-lo.

Actualização em 14.1.2010

      «A União Europeia, num “primeiro gesto”, desbloqueou três milhões de euros para auxílio de emergência e vários países-membros desencadearam acções próprias: a França, antiga potência colonizadora, enviou dois aviões com ajuda e equipas de socorro» («Lançada “operação de ajuda em massa”», João Manuel Rocha, Público, 14.1.2010, p. 3).

1 comentário:

Freire de Andrade disse...

É claro que Estado é com maiúscula? Não foi isso que o meu professor de Português no liceu, Júlio Martins Sequeira, me ensinou. Só será com maiúscula se nos referirmos a um estado em particular, como na frase "O Estado português está endividado.", não se nos referirmos a um estado genérico ou a estados. O mesmo com Liceu (o exemplo que o meu professor referiu), País, Associação. Assim: "O nosso País" mas "Fora do seu país um cidadão torna-se estrangeiro." Gostava da sua opinião.