25.7.09

«A distância»

Sem crase

      «Em Portugal, funcionará, sobretudo, como um “complemento do ensino” ministrado nas escolas, esclarece a coordenadora científica do projecto, Ana Martins, que contará com a colaboração de dez linguístas [sic]» («Projecto permitirá aprender Português à distância», Paula Torres de Carvalho, Público, 21.07.2009, p. 9.
      Não sendo a determinação necessária, deverá escrever-se «projecto permitirá aprender Português a distância», tanto mais que neste tipo de construção não ocorre a possível ambiguidade verificada na locução «ensino a distância». Quanto ao indevido acento agudo em «linguista», não é erro tão raro. Mais natural seria que os falantes deixassem de acentuar o vocábulo «altruísta», já que a generalidade (F. V. Peixoto da Fonseca, do Ciberdúvidas, vê o fenómeno de uma forma mais atenuada, dizendo que em francês altruiste, étimo do nosso vocábulo, se pronuncia ui como ditongo crescente, e que, entre nós, «também há quem faça o mesmo») pronuncia a sequência /ui/ como ditongo crescente, apesar do acento agudo do i.

1 comentário:

Franco e Silva disse...

Se nos for permitido, gostaríamos de acrescentar o seguinte:

ALTRUÍSTA:

Assim, com acento (confirmando o hiato u-i), já no Vocabulário Ortográfico, da Academia de Ciências, de 1940, ainda no Vocabulário Ortográfico Resumido da Língua Portuguesa, da Academia de Ciências, de 1947 (então regido pelo actual Acordo Ortográfico, de 1945) [AO 1945] e no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, de F. Rebelo Gonçalves, Coimbra Editora, 1966.
E será também assim pelo futuro Acordo Ortográfico de 1990, uma vez que, na circunstância, se mantém a norma de acentuação que é aplicável, por oposição (Base X - 1.º).
A regra do AO 1945 encontra-se melhor documentada na alínea 6, do $ 1 do N.º 1 (pág. 156 a 161) do Tratado de Ortografia da Língua Portuguesa, de Rebelo Gonçalves, Atlântida Editora, Coimbra, 1947, com alguns exemplos interessantes: «... aúste, balaústre, baúlhe, Caístro, faísca, influíste, ofiúro, pituíta, saúva, soía,... » e a que acrescentamos nós, ÀS AFIÚZAS, CONSTITUÍDO, Fiúza, MULTIÚSO, REÚSO, RUÍDO, entre outros, mas lembrando a excepção SEMIUSTO.

LINGUISTA:

Esta palavra não está contemplada por aquelas regras ortográficas, pois contém o ditongo crescente UI, característico da sílaba GUI, em que uma semivogal U ditonga com a vogal I, sendo indissociáveis e não acentuáveis (o que também acontece com a sílaba QUI com o mesmo ditongo crescente). Tal explica, de igual modo, que se tenha de escrever ARGUIDO (ar-gUÌ-do), DELINQUIDO (de-lin-qUÌ-do), mas RUÍDO (ru-Í-do), CONSTITUÍDO (cons-ti-tu-Í-do). Também LINGUIÇA (lin-gUÌ-ça).
Do mesmo modo para o ditongo crescente GUE e QUE: LINGUETA (lin-gUÊ-ta), FREQUENTE (fre-qUÊn-te), EQUESTRE (e-QUÈs-tre).

Aproveitamos para lembrar que pela Reforma Ortográfica de 1911 foi
«LINGÙETA, LINGÙIÇA, LINGÙISTA, FREQÙENTE, EQÙESTRE» e pela alteração de 1920 era «LINGÜETA, LINGÜIÇA, LINGÜISTA, FREQÜENTE, EQÜESTRE». O AO 1945 acabou com a acentuação de leitura do U.
Mas atenção! Se há vogal proparoxíntona, acentua-se com acento agudo ou circunflexo: LINGUÍSTICO (lin-gUÍs-ti-co), FREQUÊNCIA (fre-qUÊn-ci(-)a, falsa esdrúxula).