12.7.09

Interjeição «aha»

Aha, apanhei-vos!

      O agá não se aspira, aprendemos na escola primária. Conheci uma velhota, ex-professora de Inglês, entretanto já falecida, que pronunciava o agá do meu nome, o que desencadeava sempre em mim um sorriso prestes a rebentar em riso, que ela atribuía à minha simpatia. Ultimamente, porém, graças aos filmes, começou a usar-se a interjeição inglesa habitualmente grafada aha. «Aha, interjection, Middle English: Depending on manner of utterance, used to express surprise, pleasure, irony, derision, mockery, contempt, or triumph» (Intel Threading Building Blocks, James Reinders. Cambridge, MA: O’Reilly Media, 2007, p. 177). Sobre a pronúncia não há dúvidas: ouço sempre os falantes portugueses, que também terão aprendido, como eu, que o agá não se aspira, aspirarem o agá. Experimentem agora não ler o agá, e dir-me-ão se ainda estamos perante a mesma interjeição. Mas como se escreve em português? Vejamos: «“Como é que se chama aquela mulher que vem na minha direcção? Ora bem, vamos lá a ver… Ah, ha! SUSIE!”» (Onde Deixei os Meus Óculos?, Martha Weinman Lear. Tradução de Jorge Beleza. Porto: Porto Editora/Ideias de Ler, 2008, p. 232). «Ah, ha»? Como é que uma interjeição, aha (às vezes também grafada a-ha), se transforma, numa mitose fónico-gráfica, em duas interjeições, têm a bondade de me explicar? Só vislumbro uma solução: grafar à inglesa, pois que também pronunciamos à inglesa.

Actualização em 16.07.2009
      Eis uma tradução em que surge a interjeição: «Aha! — os livros não voam por sua livre vontade — quem os arranjou?» (Frederico, o Grande, Nancy Mitford. Tradução de Cecília Rego Pinheiro. Lisboa: Edições Cotovia/Os Livros da Raposa, 2008, p. 47).

Actualização em 16.11.2009

      E numa crónica jornalística: «A primeira resposta é: aha! O primeiro-ministro não pode querer ser uma pessoa normal (para processar jornalistas) e uma pessoa especial (para ter regras privilegiadas em escutas) ao mesmo tempo. Isso não está na lei, mas está na moral da República; ao contrário das antigas monarquias, a República não dá privilégios gratuitos; com esses privilégios tem de vir uma reserva especial de comportamento, quer ela esteja descrita na lei ou não»(«De Sócrates a Maquiavel», Rui Tavares, Público, 16.11.2009, p. 40).

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