26.7.09

Uso de estrangeirismo. «Outing»

Sair dos eixos

O jornalista João Pedro Henriques entrevistou para o Diário de Notícias o antropólogo Miguel Vale de Almeida a propósito da sua inclusão na lista de Lisboa do PS às eleições legislativas. Sendo o entrevistado não apenas homossexual assumido como também activista da LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transexuais), talvez tenha parecido ao jornalista que era inevitável que as perguntas visassem este aspecto. Pergunta o jornalista: «Noutros países há pessoas na política que assumem abertamente a sua condição homossexual. Cá, não. Pensa ter algum papel incentivador?» Responde Miguel Vale de Almeida: «Se isso acontecer, fantástico. Mas não é o meu objectivo. Não vou incentivar políticos a “sair do armário”. Isso só deve acontecer como assunção de uma posição política, contra a discriminação.» O jornalista insiste, e agora numa versão piorada: «Disse que não irá incentivar o outing de políticos?» «Exacto», responde o entrevistado, «não vou, nem pensar nisso! Isto não é um clube!» («“Não vou incentivar políticos a sair do armário”», João Pedro Henriques, Diário de Notícias, 25.07.2009, p. 64). Vejam bem: o entrevistado usa uma expressão, sair do armário, ainda que não entendida por toda a gente, largamente divulgada. O jornalista saiu-se com um vocábulo estrangeiro — outing («the public disclosure of the covert homosexuality of a prominent person especially by homosexual activists», in Merriam-Webster). Descuida-se, e ainda é agraciado com a Medalha de Ouro de Mérito Cultural.

1 comentário:

Anónimo disse...

Outing não é equivalente de «sair do armário» — talvez «arrancar do armário», à força.