Ortografia e elites
Escreve Miguel Esteves Cardoso na sua crónica de hoje no Público: «Até que ponto é obrigatório o acordo ortográfico? Poderão multar ou prender quem não obedecer? A escritora e ministra Isabel Alçada já teve a coragem de dizer que não há pressa. Outros atropelam-se para adoptar a nova ortografia como se fartos da antiga. Regra geral, o acordo ortográfico é defendido por quem escreve mal, por muito que saiba de ortografia, mas desprezado por quem escreve bem e saiba alguma coisa de linguística. Vai haver uma ASAE para a ortografia? Palavra de honra, se alguma vez fez sentido a desobediência civil, na sua versão mais serena — pífia até — é com o acordo ortográfico. O que virá a seguir neste plano totalitário de unificação?» («Acordo, a tua avó», Público, 22.12.2009, p. 31).
Miguel Esteves Cardoso não estará esquecido — decerto que é somente por imperativos humorísticos que o omite — de que escreve, e escrevemos, segundo as regras de um acordo ortográfico, tão obrigatório como não deseja que este agora seja mas é (ou irá ser, se entrar em vigor). Como já nascemos em plena vigência do Acordo Ortográfico de 1945, tendemos a esquecê-lo. Se o acordo entrar em vigor em 2012, em 2022 já ninguém apelará à desobediência civil. Mesmo a brincar. Por outro lado, ainda que o processo para se alcançar um acordo ortográfico fosse mais democrático, nunca o seria plenamente. Imaginemos que era constituída uma nova comissão, para a qual eram convidados ilustres contestatários, entre os quais Miguel Esteves Cardoso. Nunca a cozinheira do Restaurante Ribeirinha de Colares, que Miguel Esteves Cardoso talvez frequente, seria ouvida, e ela também é falante do português.
Escreve Miguel Esteves Cardoso na sua crónica de hoje no Público: «Até que ponto é obrigatório o acordo ortográfico? Poderão multar ou prender quem não obedecer? A escritora e ministra Isabel Alçada já teve a coragem de dizer que não há pressa. Outros atropelam-se para adoptar a nova ortografia como se fartos da antiga. Regra geral, o acordo ortográfico é defendido por quem escreve mal, por muito que saiba de ortografia, mas desprezado por quem escreve bem e saiba alguma coisa de linguística. Vai haver uma ASAE para a ortografia? Palavra de honra, se alguma vez fez sentido a desobediência civil, na sua versão mais serena — pífia até — é com o acordo ortográfico. O que virá a seguir neste plano totalitário de unificação?» («Acordo, a tua avó», Público, 22.12.2009, p. 31).
Miguel Esteves Cardoso não estará esquecido — decerto que é somente por imperativos humorísticos que o omite — de que escreve, e escrevemos, segundo as regras de um acordo ortográfico, tão obrigatório como não deseja que este agora seja mas é (ou irá ser, se entrar em vigor). Como já nascemos em plena vigência do Acordo Ortográfico de 1945, tendemos a esquecê-lo. Se o acordo entrar em vigor em 2012, em 2022 já ninguém apelará à desobediência civil. Mesmo a brincar. Por outro lado, ainda que o processo para se alcançar um acordo ortográfico fosse mais democrático, nunca o seria plenamente. Imaginemos que era constituída uma nova comissão, para a qual eram convidados ilustres contestatários, entre os quais Miguel Esteves Cardoso. Nunca a cozinheira do Restaurante Ribeirinha de Colares, que Miguel Esteves Cardoso talvez frequente, seria ouvida, e ela também é falante do português.
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