14.1.10

«Inflação negativa»?

Contradições


      Ontem à noite, no À Noite, as Notícias, na RTPN, João Adelino Faria fartou-se de falar da «inflação negativa». Ou fui eu que me fartei de o ouvir falar? O pior é que, durante o dia, já tinha ouvido a locução na rádio. Não pude deixar de rir e, a não ser que agora ande ainda mais atento, julgo que a insistência no seu uso é facto novo. Julgo que estamos perante uma contradictio in adjecto, uma contradição nos termos, pois o atributo é a negação do sujeito. Então o termo técnico — e os jornalistas pelam-se por um termo técnico, mesmo que o não compreendam nem saibam explicar — não é deflação?
      Curiosamente, o exemplo de contradictio in adjecto (juro que não fui eu a redigi-lo!) no Routledge Dictionary of Language and Linguistics, de Hadumod Bussmann (Londres: Routledge, 1996, p. 102), é creeping inflation.

[Post 3012]

2 comentários:

R.A. disse...

Também se houve falar muito no "crescimento negativo" da nossa economia e, sobre isso, o silêncio é ensurdecedor...

Paulo Araujo disse...

Belos oximoros... A inflação negativa não deixa de ser aceitável; é como um buraco, cresce para baixo. Vivemos no Brasil décadas de 'inflação galopante', com tanta variedade de adjetivos, que em 2009 podemos até supor uma 'inflação negativa', pois o valor apurado (4,31%) ficou abaixo da meta prevista (4,5%).
O buraco cresceu, mas cavou-se menos; a inflação em anos recentes foi maior. Portanto, a curva inflacionária está em declínio, ou seja, ocorre negativamente, se referida a uma linha de corte acima de zero. É uma contradição, sem dúvida, mas sem explicação parece apenas um oximoro injustificado.