5.2.10

As acepções de «bandido»

Ofensas coloquiais


      José Sá Fernandes, vereador da Câmara Municipal de Lisboa, está a ser julgado por difamação. As testemunhas de defesa alegaram que o «estado de revolta» vivido pelo jurista o terá levado ao uso do termo «bandido» para qualificar o empresário bracarense Domingos Névoa. Lê-se na edição de hoje do Público: «“O meu irmão estava revoltado com a perversão dos factos. Essas declarações reflectiram-se no seu estado de espírito”, defendeu a juíza Paula Sá Fernandes, irmã do vereador na câmara [sic] de Lisboa» («Chamar “bandido” foi reflexo da revolta, diz Sá Fernandes», Samuel Silva, Público, 5.2.2010, p. 27). Até este ponto, a argumentação é exemplar: o termo ofensivo foi proferido num momento de tensão psicológica. O pior é o seguimento desta linha de argumentação, tanto mais que é da autoria de uma magistrada: «A magistrada considera que o uso da expressão “bandido” serviu para “tornar mais coloquial” a opinião do irmão e que a palavra foi usada “no seu sentido naif” para designar alguém que está fora da lei.» «Sentido naif»? O Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, por exemplo, regista como primeira acepção do vocábulo «bandido» pessoa que pratica actividades ilegais e criminosas. Como segunda acepção, pessoa sem carácter. Se não corresponderem à verdade, qualquer delas é difamatória ou injuriosa.

[Post 3101]

2 comentários:

Fernando Nabais disse...

Seria também interessante analisar a impropriedade da expressão "tornar mais coloquial”. Haverá expressões mais ou menos coloquiais ou quase coloquiais ou nada coloquiais?

Belíssimo trabalho.

Fica convidado a visitar-me em
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Helder Guégués disse...

É uma forma de dizer que não diz nada. Suspeito que seja esse o objectivo.