Corria o ano de 1985. Humberto Werneck escrevia na revista Isto É que os «puristas de Lisboa estão apreensivos com a invasão — só que, no caso, de brasileirismos. Alguns anos atrás num estudo patrocinado pelo governo lisboeta e intitulado ‘Estão a assassinar o português’, intelectuais lusitanos expuseram sua inquietude diante da sôfrega assimilação, por parte de seus compatriotas, de brasileirismos como ‘transar’, que vão dar às costas de Portugal nas caravelas eletrônicas das novelas globais.»
Ainda hoje, poucos são os dicionários que registam o brasileirismo transar. E, à distância de 25 anos, não creio que tenha havido invasão nem sôfrega assimilação, e só refiro a questão porque topei, o que me parecia uma improbabilidade, com o vocábulo na tradução que tenho vindo a citar: «Senti-me embaraçado, sabendo que tinha feito amor — tinha transado — com a mulher várias dezenas de vezes: queria deitar tudo cá para fora — como ambos gostávamos de Anna à nossa maneira, como a partilhávamos, falar-lhe de todas as gorjetas que lhe dava, para o ajudar a ele também — como se isso nos fosse, de algum modo, tornar mais íntimos» (Viagem ao Fundo de Um Coração, William Boyd. Tradução de Inês Castro e revisão de texto de Maria Aida Moura. Cruz Quebrada: Casa das Letras, 2008, pp. 122-23). Se aqui não há grandes dúvidas, Anna é uma prostituta russa a viver em Paris, não se deve negligenciar que o verbo é polissémico.
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