13.3.10

Léxico: «calduço»

Mais uma lacuna


      «Luís Vaz Carmo sentia-se humilhado e arrasado por os alunos chegarem ao ponto de lhe baterem com a mão (calduços) na careca e lhe chamarem ‘cão’» («Directora escondeu carta a professores», João Saramago, Correio da Manhã, 13.3.2010, p. 5).
      Por onde começamos? Pelo título. O verbo esconder, como transitivo relativo, é regido pela preposição de, ou não? «Directora escondeu carta dos professores.» Mas não era disto, juro, que queria falar, mas sim do vocábulo calduço. Não está, como tantos outros, registado em nenhum dicionário — e todos os dias se dão e se recebem calduços.

[Post 3235]

5 comentários:

Nuno Gomes Lopes disse...

Conheço apenas a palavra 'calduços' de a ouvir na televisão (gato fedorento, talvez?). Parece-me um regionalismo. Cá por onde moro (Póvoa de Varzim) chamamos-lhe 'cachaços'. É óbvio que deveria estar dicionarizado, mas não devia estar no artigo. É um termo regional, assim como 'imperial' para designar cerveja de pressão.

Outra questão: no livro Mau Tempo no Canal, revisto pelo Hélder, encontrei 'tecto de maceira'. Maceira, segundo o dicionário, é um sinónimo de 'macieira'. Apesar de existir pela internet 'maceira' assim como 'masseira', parece-me a segunda a mais indicada. O nome do tecto não virá da madeira que o constitui mas antes da forma, a de uma 'masseira' (onde se amassava o pão) invertida.

Um abraço

Helder Guégués disse...

Estamos de acordo: tecto de masseira por ter a forma da masseira. Só que, tanto quanto me lembro, a minha intervenção limitou-se ao cotejo do original, digitalizado, com a nova edição, não me tendo sido permitido corrigir o texto de Nemésio, considerado intocável (mas, para mim, apenas um escritor enfadonho e com mais fama que mérito).

Venâncio disse...

Enfadonho, sim.

O Mau tempo é um fastio. Disseram-no "o romance do século". É preciso andar distraído.

pedro disse...

Cachaço está registado no dicionário da porto editora e na infopédia, sem indicação de regionalismo. Será devido ao facto de a editora estar radicada no porto e de a maior parte dos colaboradores ser do norte?

Nuno Gomes Lopes disse...

Todos sabemos que o português europeu moderno parte do eixo Lx-Coimbra, cada vez mais a tender para Lx. Do norte, onde a língua nasceu, tem cada vez menos força.