6.3.10

Vocábulos literários

Posta-te aí e não te mexas


      Há uma parte da língua que só sobrevive — é natural — nos livros. Substantivos, adjectivos, verbos... Verbos: postar, por exemplo, nunca o ouvi sair dos lábios de nenhuma criatura. E não em todos os livros: nas traduções. «Enquanto eu me postava de pé em frente dela, a czarina humedeceu o grande rosto vermelho do médico, estimulando-o delicadamente, mesmo de forma profissional, podia dizer-se» (The Kitchen Boy: Os Últimos Dias dos Romanov, Robert Alexander. Tradução de Helena Ramos e revisão de Ayala Monteiro. Cruz Quebrada: Casa das Letras, 4.ª ed., 2006, p. 93).

[Post 3213]

9 comentários:

Francisco disse...

Mas que grande injustiça, para não lhe chamar outra coisa! Com que então o verbo postar só sobrevive nos livros traduzidos? Então os livros originais de Eça, de Garrett, de Fialho, de Manuel da Fonseca, de Joaquim Paço d'Arcos, de David Mourão Ferreira, de Hélia Correia, de Maria Isabel Barreno, não contam? E não é triste ver definhar a língua porque a palavra escrita está cada vez mais circunscrita aos sms, twits e quejandos? LOL (não sei o que quer dizer mas achei que ficava bem no contexto.

Francisco disse...

Já sei o que quer dizer LOL e continuo a achar que fica bem no contexto. É Laugh Out Loud, que eu, que tradutor me confesso, traduziria por "Deixem-me rir!"

Helder Guégués disse...

Sim, sobrevive sobretudo nas traduções. E é triste, pois claro.

Francisco disse...

Se também acha que é triste, deixe que lhe diga que não me parece que seja isso que dá a entender o seu texto a que eu reagi.

Helder Guégués disse...

Mas não.

R.A. disse...

Podemos usar o "postar" para significar o meter uma entrada nova num blogue? Fazia jeito...
Quer dar-nos uma sugestão para este seu atuar diário que nos propicia tão interessantes reflexões?

Helder Guégués disse...

Caro R. A.: já uma vez abordei a questão, tendo então saudado todos os aportuguesamentos relacionados, como blogar, tuitar, postar... Creio que é um acto de inteligência apropriarmo-nos, no domínio da língua, mas com reflexão, ponderadamente, do que nos faz falta.

R.A. disse...

Já me tinha esquecido desse "poste" feito (fui procurar) em agosto do ano passado. Quem quiser revê-lo pode "clicar" em http://letratura.blogspot.com/2009/08/verbo-tuitar.html.
Ainda se justificam as aspas ou devo "deletá"-las? ou será "dilitá"-las?
[que pena não haver um símbolo gráfico para significar ironia ou brincadeira!!!]

Francisco disse...

Não será levar demasiado longe os aportuguesamentos sugerindo "deletar" ou "dilitar", com aspas ou sem elas? A diferença, a meu ver, é que "delete", no sentido de "apagar", "eliminar", já existia muito antes dos teclados de computador e exactamente com a mesma acepção que agora tem. O mesmo se diga do maldito "saite", que, pelos vistos, veio para ficar (como o outro, que, a avaliar pelas notícias mais recentes, já não é o que era).