Se o mundo fosse perfeito e houvesse regularidade na entrega das páginas para revisão, cada revisor teria cerca de 30 minutos para cada uma — o ideal, ou quase. Antigamente, em jornais como o Diário de Notícias, além de revisores, havia passadores, revisores de revisores, digamos. Em certos casos, bastava o jornalista ter despendido cinco minutos para que o texto ficasse legível. O revisor, se a publicação o tem, pode não ter tempo ou, no meio de tantos erros, deixar passar um erro ou uma maneira de dizer deselegante. Assim, um escreve sistematicamente, referindo-se a circunstâncias de tempo, «de lá para cá»; outro põe um jogador a dizer que quando for treinador não vai «relegar as origens»; este repete verbos na mesma construção, escrevendo, por exemplo, «e não deixou de lhes deixar outras recomendações»; aquele escreve que «o avançado não tem sido aposta firme mas tem sido chamado muitas vezes»; aqueloutro atrapalha-se com a dupla negativa e escreve que o «Fenómeno nega, também, que nunca fez pressão para marcar presença na lista final de Dunga»; este confunde «em contraste com» com «em contraponto a»; aqueloutro usa desnecessariamente um artigo definido, escrevendo que «as partes vão tentar chegar a um acordo quanto ao pagamento das obras do centro de estágio»; este diz que Ronaldo está «cansado sobre os comentários ao seu peso», etc. Basta, último dia.
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2 comentários:
Querem-se dez Helderes Guégués neste país!
Um só (o próprio) já chegaria muito. Mas seria tarefa desumana.
Não é só nos jornais!... Ontem, ouvi no 'Jornal da Noite' da SIC o seguinte, numa reportagem sobre o alcoolismo: «Bebia até o corpo aguentar...» Não seria melhor ter dito "Bebia até o corpo não aguentar mais" ou "Bebia até não poder mais"?
Caro, Hélder, continue a fazer a correcção desses erros, que não faltará quem leia as suas observações. É pena não se tratar daqueles que mais precisavam de o fazer!...
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