Não me esqueci da sua pergunta, caro Paulo Araujo. A propósito de um título, «Atacam polícia à pedrada antes de bater em agente», em que se usa a crase (e crase é vocábulo que poucos falantes portugueses conhecem), este leitor pergunta: «Supondo-se substituir pedrada por pontapé ou chute, não seria necessário imaginar ao pontapé ou ao chute; por isso, não vejo motivo para a crase. Desculpe a insistência.» Os Portugueses não somente quase desconhecem o vocábulo — raramente se debatem com a dificuldade que aos Brasileiros parece inerente ao conceito. Mas voltando atrás: crase é o nome que se dá à contracção da preposição a com o artigo a (ou no plural, as), grafada à, às, e, por extensão de sentido, ao acento grave que marca na escrita essa contracção.
Ontem, na redacção, um jornalista pensou em voz alta: «Volta a Turquia ou Volta à Turquia?» Lembrou-se, decerto, de Volta a França e Volta a Espanha, e hesitou. Tirando este caso, só me estou a lembrar da hesitação, mais do mundo académico, em torno de ensino a distância/ensino à distância. Há, não nego, algumas subtilezas no uso da crase, mas parece-me que, de uma maneira geral, não escapam ao comum falante português. Não é que o diagnóstico seja útil, mas creio que é algo idiossincrático, muito próprio dos falantes brasileiros. Razão insuficiente para dizermos que estamos perante outra língua, pois claro.
[Post 3332]
Sem comentários:
Enviar um comentário