6.4.10

«Maca», uma acepção

Fala ainda o marinheiro


      Quando ouvimos a palavra «maca», quase sempre nos vem à memória a imagem de uma espécie de cama, assente numa armação móvel e articulada, com ou sem rodas, para transportar doentes, feridos ou mortos. No entanto, vejam: «Na manhã seguinte toca o clarim a alvorada às 7h00. Chegou a altura de forrar as macas... para leigos no assunto, como nós, era um trabalho impossível de fazer; pendurar a maca pelas aranhas, dobrar os cobertores[,] os quais[,] juntamente com o travesseiro[,] tem o seu lugar apropriado dentro da maca. Um cabo com cerca de 3 metros (o cabo de tomadouro) tinha que dar 5 voltas à maca, esta ficava com a configuração de um chouriço gigante e depois de ferrada era pendurada na tarimba[,] que[,] por sua vez[,] era alçada na vertical. Depois de várias tentativas éramos quase mestres na arte. A Maca de Marinheiro era usada em quase todas as Marinhas do Mundo e a sua origem remonta aos tempos dos navios de vela» («A minha instrução de recruta», Ramiro Bandeira Martins, Combatente, Dezembro de 2009, pp. 49-50).
      No início, pensei — até porque a incompetente revisão (mais um curioso a fingir que é revisor) de António Costa autorizava-me tal pensamento — que o autor teria escrito ou queria escrever hamaca. A verdade, porém, é que uma das acepções, dicionarizada, de maca é cama de lona, suspensa, em que dormem os marinheiros a bordo, como se lê no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora. E maca vem de... hamaca. E mais: nenhum dicionário, ao contrário do que eu supunha, regista hamaca.

[Post 3312]

3 comentários:

Anónimo disse...

Há um livro de Luís da Câmara Cascudo sobre este assunto: Rede de dormir – uma pesquisa etnográfica (2.ª edição). Rio de Janeiro, FUNARTE/INF, Achiamé; Natal, UFRN, 1983. Ver mais detalhes em http://historiaecultura.pro.br/modernosdescobrimentos/desc/cascudo/ccrdredededormir.htm

Paulo Araujo disse...

Um dos pratos mais comuns nas cozinhas de bordo é a maca ferrada, uma espécie de bife enrolado com recheio de bacon; nos navios modernos já não se usam macas. Acredito que onde está 'forrar as macas..." deva ser "ferrar as macas".

Helder Guégués disse...

Caro Paulo Araujo,
É, de certeza, «ferrar», pois no texto é usado o particípio numa das frases.