16.4.10

Problemas de tradução

Pode espreitar o anacronismo


      «Era verdade: o toque senhoril do perfume de Lola não conseguia disfarçar o cheiro algo infantil a Germolene» (Expiação, Ian McEwan. Tradução de Maria do Carmo Figueira e revisão de Ana Isabel Silveira. Lisboa: Gradiva, 5.ª ed., 2008, p. 137).
      Pela pesquisa que fiz, creio que o anti-séptico Germolene não está à venda em Portugal. Contudo, ainda que esteja ou estivesse, o exemplo serve para reflectir numa questão. Não raramente, bons tradutores, em circunstâncias semelhantes, substituem por medicamentos equivalentes conhecidos de todos nós. É uma boa solução? Pode não ser. Há dois aspectos a considerar: por um lado, dar y por x (qual boticário de quiproquó) é uma pequena traição, uma infidelidade ao original; por outro, dar y por x pode conduzir a um anacronismo. Apesar da incompreensível aversão dos editores por notas de rodapé, creio que, nestes casos, o melhor seria deixar na tradução a designação original do medicamento e fazer uma nota.

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