19.5.10

«Cabilas», «Chauias»

Lá na Argélia


      «O fellah, ou pequeno agricultor, é a alma da nação argelina. A leste de Argel vivem os Cabílios: montanheses berberes, povo antigo de rostos compridos e olhos cor de avelã. […] No Sudoeste do país, no maciço de Aurès, vivem os Chaouías» (O Que Faço Eu Aqui?, Bruce Chatwin. Tradução de José Luís Luna e revisão de Carlos Pinheiro. Lisboa: Quetzal Editores, 2009, p. 271).
      Mas os dicionários só registam, e bem, Cabilas, ortografia que se lê também nos jornais: «Por seu lado, os cabilas de França pedem a Chirac que “tenha uma palavra” para os “democratas” argelinos, nomeadamente da Cabília, uma província em situação de sublevação quase permanente desde há dois anos» («Argélia e França tentam estabelecer relações “fortes, confiantes e serenas”», Ana Navarro Pedro, Público, 2.3.2003, p. 23). O Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora regista no respectivo verbete: «designação de algumas tribos nómadas, especialmente árabes norte-africanas». Esta é a primeira acepção. Como segunda acepção, regista: «tribo ou grupo de famílias que vivem no mesmo lugar». É apenas esta acepção — «tribo ou associação de famílias árabes» — que o Dicionário Priberam da Língua Portuguesa acolhe. Nesta acepção, é sinónimo de cabilda, que este dicionário também regista. O Dicionário Houaiss regista «cabila», mas apenas na segunda acepção, e «cabilda».
      Quanto a «Chaouías», o tradutor e o revisor deviam ter tido mais cuidado. É óbvio ou não é que o ou é a marca do francês? Não vejo o vocábulo em nenhum dicionário da língua portuguesa. Nem na imprensa portuguesa. Encontrei na imprensa espanhola: «Cerca de tres millones de personas integran la etnia kabilia, descendientes de las antiguas legiones romanas y de los primeros habitantes bereberes, hombres y mujeres de tez blanca y cabellos rubios o pelirrojos, de rasgos fundamentalmente distintos a los de otros grupos bereberes de Argelia, como los tuaregs, los mozabitas y los chauias» («La mujer tiene los mismos derechos que el hombre en la Kabilia argelina», Manuel Ostos, El País, 12.4.1980). Mas podemos ir mais para trás: na hemeroteca do La Vanguardia, numa edição de Setembro de 1907 pode ler-se o vocábulo.
      Em resumo: os dicionários têm muito por onde melhorar, assim como tradutores e revisores.

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