12.5.10

«Colocar em causa»?

Mais um prego


      «Manuel Alegre publicou ontem no seu site (www.manuelalegre.com) uma cronologia detalhada sobre a forma como cumpriu o serviço militar, com o objectivo de esclarecer dúvidas que têm sido levantadas sobre a matéria. O candidato presidencial diz que não tem nada a esconder, “ao contrário dos cobardes que espalham calúnias a coberto do anonimato”, e vai “agir judicialmente” contra os que colocarem em causa a sua carreira militar» («Alegre processa quem coloca a sua carreira militar em causa», Luciano Alvarez, Público, 12.05.2010, p. 21).
      Quis saber se também o poeta já tinha cedido a esta moda aparvalhada de substituir o verbo pôr pelo verbo colocar, agora omnipresente, mas não, é mesmo inépcia do jornalista.

[Post 3445]

3 comentários:

Francisco disse...

Desculpe, meu caro Helder, mas não resisti. Venho só dizer-lhe que quem prega pregos destes merece dar uma valente martelada num dedo.

Helder Guégués disse...

Caro Francisco,
Ainda bem que não resistiu: os seus comentários são sempre bem-vindos, e as suas dúvidas, quando as tem e as partilha, motivo para este blogue melhorar. Obrigado.

alicia disse...

Antes de mais nada, parabéns pelo seu blogue, que acabo de descobrir e de que passarei certamente a ser visita habitual.
Depois...
Grata, gratíssima!, por ter dado voz pública à minha modesta campanha pessoal contra o "colocar" fora do sítio!
Sou tradutora de longa data de cinco línguas estrangeiras para português.Sobretudo desde a adesão de Portugal à (então) CEE que acompanho o fenómeno, cada vez mais evidente, da contaminação entre as diversas línguas faladas nos fóruns (?) europeus e a que, sem pretensões de ter razão, atribuo, em parte, a origem de certas aberrações linguísticas(de carácter lexical,sintáctico, etc) com que "tropeçamos" no português actual.
Não tenho tendência para assumir atitudes professorais, porque tenho consciência do muito que me falta aprender. Não obstante, quando alguém me pergunta se pode "colocar-me uma questão" ("poser une question"?) em vez de "fazer uma pergunta", ou simplesmente "perguntar",o arrepiozinho da irritação auditiva transforma-se invariavelmente num pequeno discurso tão veementemente didáctico que certamente o/a pobre infractor/a jamais o esquecerá.
Infelizmente, a única certeza que me resta é de que a sua luta, a minha, e a de tantos outros, será absolutamente inglória. Uma vez entrado no sistema, o que hoje consideramos a "língua errada do povo", passará a ser, mesmo para nós, a "língua certa do povo" - essa é a verdade linguística, que Manuel Bandeira tão bem expressou.
Desculpe o espaço que lhe tomei! Na próxima vez, virei em silêncio!
alicia