Um leitor brasileiro, W. O., pretende saber em que consiste o epânodo. Bem, é matéria que as gerações mais novas de Portugueses ignoram totalmente. Era uma figura de estilo (figura de sintaxe ou de construção, mais precisamente) estudada, por exemplo, na obra do P. António Vieira. Contudo, com as últimas reformas do ensino, obras como esta foram eliminadas dos currículos. Aliás, quase toda a literatura foi escorraçada, tendo dado lugar ao estudo da língua em textos pragmáticos, utilitários. O mais perto que se fica é pedir aos alunos que redijam a acta (!) do Consílio dos Deus.
Voltemos ao epânodo. Consiste na repetição discriminada de dois ou mais termos que anteriormente foram empregados juntos. É, no fundo, uma recapitulação (é esse o significado do étimo) do que antes se escreveu. Eis um exemplo, colhido no Sermão da Sexagésima, uma obra exemplaríssima agora estupidamente substituída nas escolas por obras de escritores medíocres e traduções malfeitas: «A nuvem tem relâmpago, tem trovão e tem raio; relâmpago para os olhos, trovão para os ouvidos, raio para o coração; com o relâmpago alumia, com o trovão assombra, com o raio mata.»
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5 comentários:
No Aurélio com a abonação:
"A prudência é filha do tempo e da razão: da razão pelo discurso, do tempo pela experiência." (P. Antônio Vieira, Sermões, XIII, p. 27.)
Véio, quer dizer, Veio, seu blog é supimpa.
Desculpe-me por chamá-lo de Velho Só quis "puxar papo" sobre a reforma.
Um forte abraço e parabéns pelo excelente material!
Bons dias!!!!
Caro Paulo Araujo,
Nunca lhe agradeço as vezes necessárias, que é sempre que deixa aqui o seu contributo. Muito obrigado.
Caro Fernando Campos,
Muito obrigado pelo seu interesse.
Um outro exemplo, ainda do Sermão da Sexagésima:
"O Diabo tentou a Cristo no deserto, tentou-o no monte, tentou-o no templo: no deserto, tentou-o com a gula; no monte, tentou-o com a ambição; no templo, tentou-o com as Escrituras mal interpretadas."
(P. António Vieira, Sermão da Sexagésima, cap. IX)
Um outro exemplo, ainda do Sermão da Sexagésima:
"O Diabo tentou a Cristo no deserto, tentou-o no monte, tentou-o no templo: no deserto, tentou-o com a gula; no monte, tentou-o com a ambição; no templo, tentou-o com as Escrituras mal interpretadas."
(P. António Vieira, Sermão da Sexagésima, cap. IX
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