20.5.10

Léxico: «frântico»

Língua frenética


       «É uma atitude pertinente numa altura de frânticas exclamações de não sermos a Grécia. O Financial Times e o Economist não são o Reino Unido — são jornais. O que dizem sobre Portugal é escrito por uma ou duas pessoas e lido por poucas mais. Os ditos mercados estariam lixados se dependessem do que lêem nos jornais. Não é só saber que são falíveis. Sabem mais: que, caso seguissem as recomendações que fazem, estariam falidos há muito tempo» («O que dizem de nós», Miguel Esteves Cardoso, Público, 20.5.2010, p. 43).
      Por algum motivo que não descortino, Miguel Esteves Cardoso pensa que por meio do adjectivo «frânticas», aportuguesamento do inglês frantic, exprime melhor a ideia do que com o adjectivo português «frenético». Não sou da mesma opinião, mas, por ter um uso episódico, localizado, numa crónica e não numa notícia, não acho que venha grande mal ao mundo. Contudo, se muitos leitores não sabem o que é blockbuster, e muitos mais desconhecem «frântico», por não conseguirem ver por detrás o inglês frantic, aquele «é todo um» tem ou pode ter consequências muito mais devastadoras para a língua.

[Post 3484]

4 comentários:

Venâncio disse...

Caro Helder,

«É todo um» pode ser um castelhanismo, um de dezenas de castelhanismos idiomáticos que incorporámos.

Mas não me admiraria se, desta vez, tivéssemos a ver com um galicismo. Lembre-se de que o próprio castelhano se afrancesou bastante (embora menos que nós) depois de 1700.

«Boire Du Ricard C'est Tout Un Art!».

«c'est tout un programme» (21.400.000 ocorrências no Google)

Helder Guégués disse...

Pode ser um desses casos, sem dúvida, mas sempre estaremos perante uma forma pouco nacional de dizer.

Venâncio disse...

Sim, certo. Eu morderia antes a língua do que exprimir-me assim. Felizmente ouvimo-lo (e lemo-lo) raramente.

Helder Guégués disse...

Eu só drogado me exprimiria assim.