«Tudo aquilo foi tão excitante e dramático que só passado alguns dias é que comecei a sentir o peso de ter conhecimento dessa Outra Mulher» (Julie&Julia, Julie Powell. Tradução de Fernanda Oliveira e revisão de Eda Lyra. Lisboa: Bertrand Editora, 2.ª ed., 2009, p. 102).
Senhora tradutora, senhora revisora: «passado» concorda com que palavra? Nenhuma? Com que então poderá ter adquirido «valor preposicional», hã? Não se diga tal. A língua portuguesa tende sempre — é uma verdade tão evidente que eu próprio às vezes me esqueço dela — para a concordância, e não se queira agora transpor para a escrita todo o desleixo, toda a espontaneidade, toda a liberdade da oralidade. Ela pode não aguentar. Nem nós.
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4 comentários:
Helder,
Existe, no Norte, um uso proposicional de passado, como em Passado um semana, estavam curados. Não sei até que ponto é padronizável, ou simplesmente aceite.
Caro Fernando,
Há múltiplos usos localizados da língua, nas vertentes sintáctica, ortográfica e fonética. Se os integrarmos na norma, teremos outra norma ou muitas excepções. Apesar de tudo, as variantes ortográficas são as mais bem aceites pela língua-padrão.
Caro Helder,
Concordo. Também sou por uma norma clara, elegante. Mas gosto das notas de rodapé, que são as variantes.
Por isso lhe deixo mais uma variante nortenha (eu, alentejano do mais profundo, com escola em Lisboa, vivi em Braga toda a adolescência... veja a salgalhada). Trata-se de passado manhã (pronunciado manhá) por depois de amanhã.
Pode dar-se o caso de ser, actualmente, só residual.
«tendo (ou havendo) passado alguns dias sobre isso».
O que acontece é que quer o princípio quer o fim da frase "caem"...e fica o «passado alguns dias».
Se o «isso» (facto) já é findo, seja acção, estado ou qualquer outra coisa, e é imediatamente anterior no texto, porque não empregar a expressão «passado alguns dias»?
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