4.5.10

Sobre «golfo»

Vale a pena pensar


      «Paula Mascarenhas, assessora do ministro dos Negócios Estrangeiros, explica a aposta. “Sabendo nós dos recursos de que dispõem, é de salientar que as nossas relações com países do golfo têm revelado um dinamismo significativo”» («Portugal abre embaixada em Abu Dhabi para atrair o investimento dos Emirados Árabes Unidos», Nuno Sá Lourenço, Público, 2.5.2010, p. 19). «Anteontem, as autoridades americanas impuseram uma interdição à pesca durante um mínimo de dez dias na zona afectada. Esta zona situa-se “entre as águas do estado do Luisiana, o delta do Mississípi, e as águas da baía de Pensacola, na Florida”» («BP garante que vai pagar todos os custos da maré negra do Golfo do México», Helena Geraldes, Público, 4.5.2010, p. 18).
      Já não digo correcto mas mais compreensível que fosse o oposto: países do Golfo e golfo do México. Estou mesmo tentado a classificar o primeiro como prosónimo. É que, quando se usa a primeira expressão, todos os falantes sabem que não se trata do golfo do México ou do golfo da Guiné: está lá em vez dos nomes dos países do golfo Pérsico: Arábia Saudita, Bahrein, Emirados Árabes Unidos, Omã, Qatar, Kuwait. (O Iraque e o Irão também fazem parte da região, mas não é neles que pensamos quando usamos a expressão, e não somos os únicos, pois estes dois países não integram o Conselho de Cooperação para os Estados Árabes do Golfo [CCEAG], por exemplo.) Quando se trata de acidentes geográficos, há quase sempre desastre nos jornais. O mesmo se passa, e com menos desculpas, nos livros, pois os revisores curiosos também não são muito dados a reflexões.

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