Ao programa n.º 77 de Em Nome do Ouvinte chegou mais uma queixa relativa ao uso da língua: «Ao ouvir as notícias sobre o recente terremoto em Port-au-Prince, no Haiti, notei o uso de termos como “colapsado” e “colapsou” em referência a edifícios que ruíram. Tal atropelo do português não é aceitável. A palavra “colapso” não dá origem ao verbo “colapsar” nem a “colapsado”. Tal acontece em inglês, o que leva a crer que se fez uma tradução literal de textos escritos nessa língua. Seria importante manter os padrões linguísticos no que é uma emissora de referência.»
Alguns dicionários, porém, acolhem tudo — ou quase tudo, deixando de fora termos, acabámos de ver, que deviam acolher, como «antrópico». É precisamente o caso do Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, que dá como sentido figurado de colapsar («o ouvinte de Lisboa, jornalista da imprensa escrita», não tem razão, e foi pena a Prof.ª Regina Rocha não o ter dito) «perder a coesão; desintegrar-se; desmoronar-se», o que constitui um anglicismo semântico. Como também o é o «sentido figurado» de «queda repentina» de colapso, registado pelo mesmo dicionário. Assim, não é de surpreender que os tradutores não pensem muito quando têm de traduzir: «Fiquei particularmente preocupado com o súbito colapso da ponte na estrada interestadual 35W, no meu Estado natal do Minnesota, porque era uma ponte que eu tinha atravessado centenas de vezes na minha juventude» (Quente, Plano e Cheio, Thomas L. Friedman. Tradução de Carla Pedro e revisão de Marta Pereira da Silva e Almerinda Romeira. Lisboa: Actual Editora, 2008, p. 28).
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