13.5.10

Tradução: «stalking»

Obsessões e manias


      A fã que infernizou a vida de António Manuel Ribeiro, vocalista dos UHF, foi ontem condenada pelo Tribunal de Almada a dois anos de prisão com pena suspensa. Numa peça de apoio, «Milhões afectados nos EUA e Reino Unido» (J. A. C., p. 16), o jornalista do Público recorre a um anglicismo para não se sentir inferiorizado: «À luz do caso de António Manuel Ribeiro, o fenómeno de assédio e perseguição de terceiros surge como um caso que começa pela fama, pela exposição pública. Mas o stalking, na expressão inglesa, é um fenómeno que tanto pode afectar personalidades públicas quanto particulares. […] O mesmo documento indica que cerca de uma em cada quarto [sic] vítimas de perseguição e assédio foi alvo de ciberstalking — através de e-mails (83 por cento) ou de mensagens em chats (35 por cento).» No fim de Fevereiro, o Jornal de Notícias publicou uma notícia sobre este tipo de comportamento (afirmar que é um novo tipo de crime parece-me incorrecto) e, embora tivesse referido o anglicismo, titulou: «Casos de assédio obsessivo começam a ser conhecidos». Não me parece, pois, que precisemos do anglicismo. Mas já sei que os jornalistas não nos vão poupar ao seu uso.

[Post 3450]

10 comentários:

zoto disse...

Resta que ciberstalking é uma espécie de misturada, pois nem mesmo existe em inglês.

Anónimo disse...

Recordo que antes da invenção do anglo-ciber-português, se dizia que pessoas que eram vítimas deste fenómeno andavam a ser perseguidas. Dizia que o ex-marido de fulana a andava a perseguir, que sicrana andava a ser perseguida por um estranho, etc. Depois os jornalistas começaram a ter a mania que deviam reinventar a língua para a sua escrita parecer mais sofisticada e deu nisto.

Pedro Ribeiro disse...

"Assédio obsessivo" é uma tradução perfeitamente aceitável. O problema é que não está generalizada.

Procurei "stalking" em dois dicionários; um não tinha o termo, o outro sugeria "perseguição", o que não é de todo suficiente.

Ora, eu por mim passo a usar "assédio obsessivo" - não é tão elegante nem tão conciso como "stalking", mas enfim, é português.

Mas os dicionários não ajudam; os especialistas no assunto também preferem muitas vezes o termo inglês; como podemos esperar que os jornalistas (ou outros quaisquer) não se refugiem no inglês?

É o mesmo problema com o "bullying", ou "intimilhação"...

Helder Guégués disse...

Obrigado aos três. Stalking nem quem sabe inglês sabe o que é sem consultar um dicionário. Vamos, pois, generalizar assédio obsessivo.

Anónimo disse...

Ora, em inglês, "stalking" é da linguagem corrente. Já o vi em filmes, desenhos animados e quadrinhos para adolescentes. Talvez não necessariamente como substantivo, assim, mas na forma do verbo "to stalk", ou pelo substantivo "stalker". (Aliás, qualquer rapazote iniciado nos RPGs da vida saberá o que é um Stalker).
Logo, discordo dessa sua colocação, Helder. Mas concordo que se deva preferia um termo em português, sempre que possível.

Helder Guégués disse...

Isso no Brasil, caro anónimo. Esse conhecimento não é corrente em Portugal. O que interessa, porém, é a conclusão: não temos de importar cegamente o anglicismo.

Anónimo disse...

Convém não confundir as coisas. O uso do termo em filmes como "Stalker" (de 1979) ou em jogos como "Landstalker" (Sega Megadrive, 1993, um dos melhores RPG que joguei cá em Portugal), "Lady Stalker" (Super Nintendo, 1995) ou "Time Stalkers" (Sega Dreamcast, 2000) está relacionado com o significado tradicional do verbo «to stalk», que é «espreitar». O uso do termo com o significado de «assediar» é bem mais recente (posterior a 2002, e com origem nos Estados Unidos); muito provavelmente derivou do significado «perseguir», com que o verbo «to stalk» é usado quando relativo a actividades de caça (perseguir uma presa).

Samuel disse...

Olá, gostaria de te convidar para participar de uma rede de conteúdo para blogueiros.

Chama Ocasional, se você tiver interessa veja como funciona a rede aqui em www.ocasional.com.br/howto.aspx ou então pode enviar um email no smatosjr@gmail.com

Abs,
Samuel

Roberto de Barros Benévolo disse...

Em maio de 2006, o advogado brasileiro Damásio E. de Jesus divulgou estudo sobre o “stalking”, que já preocupava a ONU, a ponto de recomendar aos Estados-membros a edição de normas cíveis e penais, para impedir e reprimir essa prática indesejável.
O estudo está em
http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=10846
No Brasil, o “stalking” é conceituado como “perturbação da tranqüilidade”.

Anónimo disse...

"Posterior a 2002..." Isso é o que chamo de uma datação precisa. Tens uma fonte confiável para tal?