«Os sons de fundo ecoavam na cabeça de Hannibal. O chilreio, o dialéctico Báltico da sombria» (Hannibal: A Origem do Mal, Thomas Harris. Tradução de Maria Dulce Guimarães da Costa e revisão de Cristina Pereira. Lisboa: Casa das Letras, 2007, p. 244).
Eu explico o contexto para ajudar o leitor. Vladis Grutas, um dos sequestradores de lady Murasaki, telefona a Hannibal Lecter e diz-lhe que a tem e faz-lhe uma proposta. Grutas é dono do Café de L’Est, um restaurante que tem à porta uma gaiola de sombrias (Anthus lutescens), donde telefona. Depois do telefonema, Hannibal senta-se na cama a pensar e o que lhe vem à mente é aquele chilreio, o dialecto báltico da sombria. Agora digam-me: quantos serão os leitores que conseguem ultrapassar a barreira de erros até à compreensão da frase? Já percebemos porque é que «báltico» está indevidamente grafado com maiúscula inicial. O pior, contudo, é que poucos dicionários registam «dialéctico» como sinónimo de «dialectal» — e também percebemos porquê. Como é que uma frase mais que arrevesada como esta não chama a atenção da revisora?
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