12.6.10

Ainda sobre «solicitor»

Bem arreigado


      Cartas na Mesa, o episódio de anteontem de Poirot na RTP Memória. O major Despard vai visitar Anne Meredith a Wendon Cottage, Wallingford. Diz o major à frágil Anne: «Tomei a liberdade de mencionar o seu nome ao meu solicitador.» Quer dizer, a tradutora, Mafalda Eliseu, é que o faz dizer isto, porque no original o que se ouve é solicitor, isto é, advogado. Escassos minutos depois, que a visita foi curta, Despard ainda afirma: «If so you are perfectly within your rights in refusing to answer any questions Battle may ask unless your solicitor is present.» Mas na tradução: «Se assim for, está no seu direito recusar responder a qualquer pergunta sem ser na presença do seu solicitador.» Para que é que Anne Meredith ia precisar de um solicitador quando fosse ser interrogada pela polícia? A tradutora não pensou nisso.

[Post 3570]

5 comentários:

Francisco disse...

Só um pequeno aditamento, que é uma pequena delícia: Por várias vezes é referido, no episódio, o "Grand Slam", a jogada rainha do bridge que depois foi adoptada por outros desportos para designar a conquista de vitórias em todas as principais competições (de ténis, de golfe, etc.). Pois bem, o dito "Grand Slam foi sistematicamente escrito nas legendas "Grand Cheleme".

Helder Guégués disse...

Caro Francisco,
Não me parece mal, pois os próprios jogadores usam a locução aportuguesada (assim, melhor ainda seria grande cheleme). Foram os Franceses que afeiçoaram à sua língua o Grand Slam inglês. Nós fizemos, e bem, o mesmo.

Francisco disse...

Pois é, caí na esparrela que a minha mãe tão bem definia, citando não sei quem: "A ignorância é muito atrevida". Desconhecia de todo este aportuguesamento que, do ponto de vista fonético, tanta estranheza me causa! Mas a verdade é que existe e por isso peço desculpa ao tradutor dos diálogos do episódio do Poirot. Prometo ser mais cauteloso de futuro.

Helder Guégués disse...

Estranho será, mas não caso único: já aqui me referi ao vocábulo chulipa, que vem do inglês... sleeper.

Francisco disse...

Ínvios são por vezes os caminhos da língua. Um termo do bridge que é aportuguesado através do francês faz-nos pensar que foi de França que importámos a prática do bridge. Nada "british" essa importação! Já agora, se os aportuguesadores de slam para chelame fossem os mesmos que os de sleeper para chulipa fossem teríamos ao menos chulame em vez de chuleme, o que sempre seria mais fiel ao vocábulo aportuguesado.