21.6.10

Alta/Baixa de uma cidade

Já que fala nisso


      A leitora Joana B. pretende saber o que acho de se grafar, habitualmente, com maiúscula o vocábulo «baixa» para designar a parte baixa de uma cidade. Acho perfeito: é um topónimo, e estes são grafados com maiúscula inicial. Pena é que ainda não tenha entrado bem na cabeça de quem escreve, e particularmente dos jornalistas e tradutores. E mais: se vai sendo (com muitas, muitas excepções) habitual, vai-se esquecendo que se tem de fazer o mesmo com o antónimo: Alta. Mas vai-se vendo: «E para proteger a imagem simbólica da torre, que domina o topo da colina da Alta de Coimbra, foram colocados painéis gigantes que cobrem as quatro fachadas e que reproduzem, de forma fidedigna, a imagem do monumento» («Coimbra. A torre da Universidade como nunca a vimos antes», André Jegundo, «Cidades»/Público, 16.05.2010, p. 10). «Pocheiras e suas taças, “bucha” de iguarias várias, vinho a retalho, loureiro à porta — eis alguns traços da Rota das Tabernas de Coimbra, desde a zona de Santa Clara e Monte Arroios à Baixa e Alta da cidade, espaços de um passado remoto que, desde ontem, ganham visibilidade mediática e um novo “mapa” turístico» («27 tascas elevadas a destino cultural», Paula Carmo, Diário de Notícias, 27.02.2009, p. 28).
      Há quem pense, não duvido, que só se aplica (!) à cidade de Lisboa; outros sabem que não: «O regresso dos eléctricos à Baixa do Porto acontecerá no âmbito da Semana Europeia da Mobilidade, que se assinala entre os próximos dias 16 e 22, tendo a Sociedade de Transportes Colectivos do Porto (STCP) investido um montante entre os 700 mil e o milhão de euros para instalar os novos carris, seguindo as indicações de um estudo realizado na fase preparatória da Capital Europeia da Cultura» («Carros eléctricos regressam à Baixa do Porto durante a semana da mobilidade», Jorge Marmelo, Público, 10.09.2007, p. 18). «As figuras de Hillary Clinton e Barack Obama, em versão boneco articulado gigante, dão voltas e voltas pela Baixa de Filadélfia, acenando mecanicamente à multidão do banco de trás de um descapotável pintado com esta mensagem: “Que ganhe o melhor homem ou mulher”» («Filadélfia: buzinar por Hillary, telefonar por Obama», Rita Siza, Público, 21.4.2008, p. 16). «O proprietário de uma livraria foi assaltado, ao fim da tarde de sexta-feira, em plena Baixa da cidade de Vila Nova de Santo André, no passeio das Barcas, quando se preparava para depositar numa agência bancária o dinheiro do movimento desse dia, estimado em alguns milhares de euros» («Assalto na Baixa de Vila Nova de Santo André», Público, 21.4.2008, p. 21). «Os milhares de fãs que acorreram à Baixa de Los Angeles levaram a peito o tema de showneral anunciado desde a véspera: vestidos de luto, os que privilegiavam um sóbrio tributo, ou, os que mais investiram na vertente do show, imitando o ídolo, com óculos espelhados e casacos de couro vermelho» («Um showneral para dizer adeus a Jackson», Rita Siza, Público, 8.07.2009, p. 23). «Mais assaltos e vandalismo na Baixa de Setúbal» (Roberto Dores, Diário de Notícias, 23.03.2009, p. 20).
      Quanto aos dicionários: o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora regista para «baixa»: «parte baixa de uma cidade que é normalmente o centro administrativo ou comercial»; e para «alta»: «parte mais elevada da cidade». «Que é normalmente zona residencial», poderia acrescentar? O Dicionário Priberam da Língua Portuguesa regista para «baixa»: «Parte mais funda duma povoação. (Neste caso com inicial maiúscula.)»; e para «alta»: «Designação vulgar da parte alta de uma povoação e das pessoas da maior categoria.» Ora, neste verbete também deveria acrescentar-se: «(Neste caso com inicial maiúscula.)» E, apesar de histórica e sociologicamente talvez se justificar, eu não misturaria numa mesma acepção os aspectos topográficos com os aspectos sociais.

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