«O homem que nunca muda de opinião é como água estagnada e gera répteis da mente», William Blake. Mas ainda é cedo para mudar de opinião. Só quero dizer isto (e, estranhamente, os leitores estranham sempre que me pronuncio sobre os meus gostos): detesto a palavra «pedaço» para me referir ao tempo. «Durante um bom pedaço cada um disse e repetiu as loucuras que lhe vinha à mente sem que nada lhe parecesse asneira» (Uma Aventura no Egipto, Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada. Lisboa: Editorial Caminho, 4.ª ed., 2008, p. 122). «Valia mais que dissesse alguma coisa de substancial sobre a frase», estarão a murmurar alguns leitores mais exigentes. É para já: o verbo tem de estar no plural: «as loucuras que lhe vinham à mente».
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6 comentários:
O Aulete e o Infopedia reconhecem a aceção de "pedaço" como certo ou breve espaço de tempo. O Houaiss e o Priberam não. Dois-a-dois!
O Helder pode não gostar mas cá no norte usa-se muito.
Já a locução "pedaço-de-asno" só é conhecida dos dicionários portugueses. Curioso!
No novo dicionário Sacconi tem, embora pouco usado no Brasil:
// Pedaço de asno.Palerma; pateta; paspalho: Ela agora se convenceu de que casou com um pedaço de asno.
Ainda há bocado escrevi um comentário e eis-me a dizer, por outro lado, que os quatro dicionários que citei reconhecem a aceção de curto período de tempo à palavra "bocado".
[no AO1990, "eis-me" leva hífen?]
Sim, continuará a usar-se o hífen a ligar a partícula denotativa eis ao pronome pessoal átono: eis-me, eis-vos, eis-nos, ei-lo.
Obrigado! Hei de ver se não me esqueço de pôr o R.A. na próxima vez.
No 'Vocabulário histórico-cronológico do português medieval', de Antonio G. Cunha, encontrei, de Gomes Eanes de Zurara, o seguinte: "séc. XV, ZURD, 75.5 4 [...] ouuyo missa que foy huum pedaço mais cedo do que soya [...].
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