18.6.10

Entre (os) dentes/entredentes

Fico com a do meio


      José Pedro Machado, no Grande Dicionário da Língua Portuguesa, regista «entredentes». O Dicionário Houaiss, por sua vez, regista «entre os dentes». Há, porém, uma terceira variante, provavelmente a mais usada, que fica, em termos de evolução, entre aquelas: «entre dentes». Ou seja, ter-se-á começado por dizer «entre os dentes», depois, «entre dentes» e, finalmente, por analogia com outros vocábulos, «entredentes». O que convém sempre, é claro, é não usar duas ou três formas no mesmo texto: «— Sim, pai — disse Bruno entredentes» (O Rapaz do Pijama às Riscas, John Boyne. Tradução de Cecília Faria e Olívia Santos e coordenação e revisão da tradução de Ana Maria Chaves. Alfragide: Edições Asa II, 7.ª ed., 2010, p. 102). «Bruno disse qualquer coisa entre dentes, tipo “Claro que havia”, mas não muito alto para Shmuel não ouvir» (idem, ibidem, p. 110). Outros exemplos: «Murmurei entredentes alguns lugares-comuns — Oxford, college eminente, enorme privilégio, a honra — mas ele interrompeu-me logo» (Viagem ao Fundo de Um Coração, William Boyd. Tradução de Inês Castro e revisão de texto de Maria Aida Moura. Cruz Quebrada: Casa das Letras, 2008, p. 39). «— Vai-te lixar! — dizia-lhe então entredentes e atacava-lhe os tornozelos, decidido a fazer-lhe cócegas até ela se render de cansaço» (O Jardim de Cimento, Ian McEwan. Tradução de Cristina Ferreira de Almeida e revisão de Eda Lyra. Lisboa: Gradiva, 4.ª ed., 2005, p. 28). «— Adoro “lagartixas”... — murmurou o Chico entredentes» (Uma Aventura no Egipto, Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada. Lisboa: Editorial Caminho, 4.ª ed., 2008, p. 22). «— Ah, a aranha santimonial — retorquiu ela, e toda a gente se riu entre dentes, menos eu. Mrs. Woolf olhou-me de alto a baixo. — Vejo que o perturbei. Provavelmente venera-o» (Viagem ao Fundo de Um Coração, William Boyd. Tradução de Inês Castro e revisão de texto de Maria Aida Moura. Cruz Quebrada: Casa das Letras, 2008, p. 100). «Pôs o pé no primeiro degrau e resmungou entre dentes: “A quinta que se foda.” Tinha sido a sua mantar quando entrava em acção desde que fugira de casa aos doze anos de idade» (Hannibal: A Origem do Mal, Thomas Harris. Tradução de Maria Dulce Guimarães da Costa e revisão de Cristina Pereira. Lisboa: Casa das Letras, 2007, p. 218).

[Post 3596]

1 comentário:

Xantipa disse...

A não ser que dissesse, entredentes, que um fio de manga lhe tinha ficado entre os dentes...
:)
Um abraço