1.6.10

A Haia/Haia

Norma e desvio


      Consigo demonstrar, de uma penada, que ninguém (o que inclui, naturalmente, a leitora Virgínia Joaquim) escreve sempre sem desvio da norma. Ora vejamos só com um exemplo. Quem é que hoje em dia usa a forma «dize» do imperativo? Apenas crianças (a minha filha, com 3 anos, fá-lo) e estrangeiros que estejam a aprender a língua portuguesa. Ora, o que justifica que se tenha abandonado totalmente — há muito que as gramáticas não referem sequer estas formas, faze, dize, etc. — esta grafia? Foi publicada alguma lei a determiná-lo? Algo com a força, em certas circunstâncias, da lei: o uso. Houve, há quase sempre, uma fase intermédia: perante o uso avassalador das novas formas, as gramáticas registavam as duas variantes. Posteriormente, deixaram de registar as formas antigas.
      Por vezes, pergunto-me o que entenderão os falantes, mesmo alguns que por aqui andam a deixar comentários que advogam o relativismo linguístico, por norma. Se há língua, há norma — e há sempre norma, mesmo com a evolução da língua. É sintomático que um autor criterioso como José Manuel de Castro Pinto não anteponha o artigo ao topónimo Haia. Nem, já agora, ao topónimo Havana. Por acaso, acho totalmente improcedente o argumento de que noutras línguas tem artigo. Por outro lado, e para terminar, o artigo nos topónimos Porto e Haia nunca foram usados da mesma forma, são casos diferentes.

[Post 3525]

6 comentários:

Franco e Silva disse...

Outra semelhante: Corunha (e não *A Corunha) para traduzir La Coruña.

Anónimo disse...

Perfeitamente, Franco. E disse bem o caro Helder.
Imaginem agora se fôssemos usar o artigo sempre que em outras línguas ele também for usado. Teríamos de ser poliglotas para escrevermos com alguma segurança... E sempre é de se questionar: quais línguas serviriam de modelo?
E acaso não é uma tendência quase absoluta do Português em não se colocar artigo antes de nomes de cidades? O mais correto, penso, é vermos esse caso de Haia como o uso comum (e também o uso culto) tratando de aplicar esse padrão. Já não era sem tempo.

Venâncio disse...

Eu nunca escreveria A Corunha como o nome da cidade, um preciosismo galego muito diferencialista (sobretudo quando escrito A Coruña), que eu respeito, mas não secundo.

De resto, em 40 anos de Holanda (ui!), nunca usei A Haia, NA Haia, PELA Haia. Falta-me preciosismo, talvez.

Venâncio disse...

Uso, sim, o artigo para A Corunha, quando não estritamente "etiqueta" com o nome da cidade. Portanto, estive NA Corunha (e realmente recomendo...), vou À Corunha, etc.

Tal e qual como se faz com O Porto.

Helder Guégués disse...

E é esta diferença que a tradutora e revisora Virgínia Joaquim mostrou não conhecer.

Venâncio disse...

Caro Anónimo (o Mesmo? já Outro?),

Não há uma "tendência" do português para não usar o artigo em nomes de cidade. Há uma REGRA, com algumas excepções.

O artigo usa-se só quando o nome da cidade é também nome comum. Assim, o PORTO, o RIO, a GUARDA, a PRAIA. Mas não no plural (em LAGOS), ou quando se junta um adjectivo (em PONTA DELGADA).

Digamos que a Covilhã ou a Corunha só vêm colorir a regra.