Por vezes, é preciso ler Cervantes para conhecer melhor a nossa língua. Palavra de cunho médico, e sólida, com entrada no português no dealbar do século XVII, puerpério é vocábulo um tudo-nada rebarbativo, e, lançado assim em volta, pode provocar olhares compassivos e repassados de ignorância. Cervantes pôs uma ciganita adolescente a dizer, o que era mais verosímil, «sobreparto». «—¡Plega a Dios que no muera de sobreparto! —dijo Preciosa.» Queira Deus que não venha agora um médico estraga-prazeres (ou um medicastro estraga-albardas) dizer-nos que «puerpério» e «sobreparto» não são a mesma coisa.
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