28.6.10

Léxico: «palmado»

Semelhante apenas


      Lembram-se da «communauté de castors»? «De facto», disse-me então o editor, «a imagem provida pela expressão “comunidade de autoconstrutores” é mais forte e passível de desencadear mais curiosidade e discussão do que a provavelmente já conhecida “comunidade de castores”. A metáfora não ficaria mal de todo, mas pessoalmente acho mais fascinante remeter o leitor para uma cena de um grupo de índios da Meia Praia do que um facto da vida natural que, mais tarde ou mais cedo, irão ver num programa do National Geographic.»
      Na edição de ontem do Diário de Notícias, foi publicado o artigo «Os grandes construtores de barragens» (p. 68), da jornalista Mariana Correia de Barros. O início do texto é sobre a descoberta, o que eu já tinha lido noutros dois jornais há semanas, de uma represa gigantesca, com 850 metros, numa reserva do Canadá. Represa/dique/barragem (ocorrem os três vocábulos no texto) construída por castores. «Além das barragens, constroem as suas próprias tocas, “autênticas cabanas” e canais que usam para transportar os materiais mais pesados”. “Com os dentes, conseguem derrubar árvores, não só para comerem as raízes, como também para se usar os troncos na construção”» (As citações são de Nuno Leitão, engenheiro florestal.) Mas «as megaconstruções» (a palavra tinha de ser usada) «só são possíveis em países como o Canadá, onde o castor é símbolo nacional». Em Portugal, está extinto desde a Idade Média.
      A infografia, primorosa como sempre, revela dados interessantes sobre o castor. Contudo, sobre os membros, lê-se: «Os castores têm as patas traseiras palmeadas e os dedos unidos por uma membrana.» Mas palmeado, tanto quanto vejo, é o «que se acompanha com palmas». Uma dança, por exemplo. No campo da anatomia zoológica, da porção distal larga e lobada, lembrando a palma da mão aberta e com os dedos estendidos, diz-se que é palmada. Gralha, dir-se-á, mas não, apesar de também se ler que «o castor procede a concertos e amplia a toca continuamente». Não, não: para mim, a jornalista terá tido acesso a informações em língua inglês, na qual «patas palmadas» se diz «webbeb feet». Ao pesquisar, terá encontrado a tradução espanhola: «patas palmeadas». E está certo: nesta língua, palmeado é o que tem a forma de palma; e, mais especificamente, em zoologia diz-se dos dedos de alguns animais, ligados entre si por uma membrana. El castor. Mamífero roedor, de cuerpo grueso, que llega a tener 65 cm de largo, cubierto de pelo castaño muy fino, con patas cortas, pies con cinco dedos palmeados, y cola aplastada, oval y escamosa.

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