«Dizem que somos como os gibões dos franciús de Belmonte: rotos e sebentos, mas cheios de dobrões», escreveu Cervantes. No nosso Belmonte também há franciús. Pelo menos vêem-se agora no Verão muitas matrículas francesas e, durante todo o ano, as estranhas vivendas que os esperam quando estiverem na «retrete». Mas esqueçamos agora a Cova da Beira.
«Gabachos de Belmonte», está no original. Na página 94 dos Gentilicos Españoles, de Tomás de la Torre Aparicio (Madrid: Editorial Vision Net, 2007), lê-se que gabacho (e belmonteño e belmontino, mas estes não interessam ao caso) é gentílico de Belmonte, província de Cuenca. Contudo, os gabachos são de Belmonte del Tajo, na província de Madrid. Quando os caldeireiros gabachos, isto é, franceses, passavam por Belmonte de regresso a França, o marquês de Villena obrigava-os a mudar de roupa para chegarem decentemente vestidos à sua pátria. Entre as vestimentas estariam, muitas vezes, gibões, nos quais tinham ocultado, ao longo do seu trajecto por terras de Espanha, o dinheiro que iam ganhando. E o espertalhão do marquês ficava-lhes com o dinheiro. No caso, dobrões, ou seja, moedas que tinham os bustos, um em cada face, dos Reis Católicos. Doblón, dobrão, porque dobrava, duplicava, o valor do ducado.
Gabacho era um termo pejorativo, sobretudo depois das guerras com França. Deriva do occitano gavach, «papo de ave» (o que é, como seria de esperar, mais do que controverso), referência ao bócio (difuso, no caso) de que sofriam muitos montanheses occitanos. (Sabe-se da enorme prevalência de bócio entre, por exemplo, os Suíços. Já o historiador romano Juvenal, a caminho da Gália, observara que muitos habitantes dos Alpes sofriam de guttur, bócio.)
Na anterior edição do Dicionário de Espanhol-Português da Porto Editora, de Julio Martinez Almoyna, no verbete respectivo lia-se «francês» e não, como na última edição, coordenada por Álvaro Iriarte Sanromán, «franciú».
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