27.6.10

Tradução

De Lançarote, em portunhol


      Maria Flor Pedroso foi a enviada especial da Antena 1 a Lanzarote logo depois de ter sido anunciada a morte de José Saramago. Em Tías, cruzou-se com Xavier Muñoz, que é o responsável da Biblioteca José Saramago. Quer dizer, Xavier é o que escreveu a jornalista, na verdade é Javier. Adiante. «Chegou a Saramago porque é informático. “José precisava de um informático e chamou-me. Assim. Simples... e depois disso, ‘mira’ um montão de anos’. Xavier, uma espécie de homem duplicado para o escritor. Foi por causa do romance, em 2001, que Xavier se encontrou com José, como lhe chama, e que “te posso dizer, como informático, José era muito adiantado no computador. Muito mais do que Pilar. Até ia à net quando tinha dúvidas sobre o acordo ortográfico”» («Don José de Lanzarote parou todos os relógios às quatro da tarde», Maria Flor Pedroso, i, 21.06.2010, p. 17).
      Saramago era adelantado, perdão, «adiantado no computador»? Ou seria «avançado»? E dizemos montón, perdão, «montão de anos» ou «monte de anos»? «Mira», vírgula. Na rádio, isto devia ser muito engraçado.

[Post 3635]

3 comentários:

Venâncio disse...

Caro Helder,

Acho que ainda há mais, bem camuflado.

«Chegou a Saramago» deve ver LLEGÓ A S., isto é, «entrou em contacto com S.».

«Assim. Simples...» deve ser ASÍ DE SIMPLE, isto é, «Tão simples como isto».

«Chamou-me» deve ser ME LLAMÓ, isto é, «telefonou-me». Sim, alguém vê Saramago a altear a voz por sobre Lanzarote, ou a mandar recado pela criada?

Enfim, a fórmula do horror futuro.

P.S.
Futuro? Qual! O ficcionista Saramago desde 1995 que escreve exactamente assim. E pior.

Peço desculpa (o Helder conhece o texto) desta auto-exposição:

http://www.ciberduvidas.com/controversias.php?rid=1834

Venâncio disse...

Só mais isto: UN MONTÓN DE AÑOS corresponde, na linguagem diária, ao nosso «uma porção de anos».

Helder Guégués disse...

Já conhecia o seu excelente artigo. Quanto a Maria Flor Pedroso, que não pode ter a veleidade de se comparar a Saramago, que outro é o escopo da sua prosa útil e jornalística, acho que devia estar prevenida para esta língua de uma terra de ninguém. Um indivíduo maldoso ou louco, mas há poucos, diria que foi Javier que escreveu tudo, tendo a jornalista traduzido, como pôde e soube, para português.