6.7.10

Acordo Ortográfico

AO à la carte


      Agora que a irreversibilidade da aplicação do Acordo Ortográfico de 1990 me parece uma evidência, vamos ter outros dois problemas: o desconhecimento das suas regras e a aplicação à la carte. «Quase todas as outras atividades», escreveu ontem Francisco José Viegas na coluna que mantém no Correio da Manhã, a única, recorde-se, neste jornal segundo as novas regras ortográficas, «pedem às câmaras que os contratem para espetáculos ou ao Estado que lhes pague o que acham.» De fora ficava a edição de livros, que, segundo FJV, não se lamuria nem pedincha nada ao Estado. Umas linhas antes, tinha escrito: «Através das câmaras, o Estado tem financiado a “indústria musical” no Verão — da “música pimba” ao rock e ao hip-hop.»
      Ora, a Base XIX, 1.º, b), do Acordo Ortográfico de 1990 é claro ao estabelecer o uso da minúscula: «Nos nomes dos dias, meses, estações do ano: segunda-feira; outubro; primavera.» Já agora, há publicações que, depois de terem, de acordo com a nova ortografia, escrito «espetáculo» e «espetador», recuaram, a pedido, para «espectáculo» e «espectador». Não por vontade própria o fizeram, antes por pressões de vontades alheias. Outra grande fonte de equívocos são as duplas grafias. Malaca Casteleiro afirmou uma vez que serão cerca de 500 vocábulos os que ficarão com dupla grafia e acentuação. Também veio comparar, o que me pareceu pouco avisado, a dupla grafia permitida pelo AO1990 com variantes que a língua já regista, como ouro/oiro e outras semelhantes.
      Faltam, a meu ver, duas coisas para se aplicar cabalmente o Acordo Ortográfico de 1990: discernimento e um vocabulário ortográfico comum.

[Post 3669]

2 comentários:

Venâncio disse...

Caro Helder,

Suponho que a ausência (que também suponho sempiterna) duma Vocabulário Ortográfico Comum tem a ver com a assustadora perspectiva de ter que consignar uns bons milhares de variantes.

Vendo bem, prefiro os Vocabulários Nacionais. Só espero que a Ministra tenha o discernimento de oficializar o do ILTEC.

Helder Guégués disse...

Na verdade, eu também espero por um vocabulário nacional, até porque o comum não é esperável. E também espero, por vários motivos (porque está feito, porque não é obra de uma editora...), que seja oficializado o do ILTEC.