17.7.10

Tradução: «windfall gains»

O vento o dá, o vento o leva


      Caro Luís Caetano: na edição n.º 4 da Ops!, Pedro Bingre, num texto intitulado «A bolha imobiliária: duas faces da mesma (falsa) moeda», traduz a locução inglesa windfall gains por «fortunas trazidas pelo vento», e justifica numa nota final: «Tradução livre da expressão windfall gains — ganhos económicos não resultantes de actividades económicas produtivas da parte do beneficiário. Habitualmente resultam de manipulações políticas dos mercados económicos, de modo a introduzirem uma “renda de escassez”, um acréscimo artificial entre o custo de produção e o preço de venda de um dado produto. Às tentativas de obter windfall gains a literatura económica anglo-saxónica dá o nome formal de rentseeking activities, e o nome informal de bribery.»
      Parece original, se não apenas for muito literal, mas já as Ordenações lhes chamavam cousas trazidas pelo vento. Já tenho visto a designação, mais acomodada aos nossos tempos, «ganhos passageiros».

[Post 3701]

8 comentários:

Francisco Agarez disse...

E porque não, singelamente, "ganhos inesperados"? Podem acontecer em dias sem vento e não têm necessariamente de ser passageiros. Limitam-se a "cair do céu".

Helder Guégués disse...

Parece-me perfeito.

Anónimo disse...

A mim parece-me mais que "windfall gains" é um eufemismo para lucros especulativos.

Quanto à alternativa, estou em desacordo, pois um lucro inesperado pode dever-se, por exemplo, a um aumento sazonal da procura, sem que haja especulação ou rentismo envolvidos. Salvo melhor interpretação, estes "windfall gains" estão associados a actividades económicas de legalidade duvidosa e de moral ainda mais duvidosa, teor que "lucros inesperados" veicula.

Francisco Agarez disse...

Não sei porquê, mas encanito com comentários de anónimos.

Anónimo disse...

Queria dizer no final: "teor que lucros inesperados NÃO veicula", daí o meu descordo.

Helder Guégués disse...

Caro anónimo: suponha que tinha comprado, há dez ou vinte anos, uns terrenos na freguesia da Ota, no concelho de Alenquer, por tuta-e-meia. Agora via os terrenos valorizadíssimos. Tratava-se ou não de windfall gains? Era ou não um ganho inesperado? E era especulativo? Não. Ou não necessariamente.

Francisco Agarez disse...

Sem querer alongar-me no diálogo com o meu interlocutor anónimo, passo a transcrever a definição de "windfall gains" que copiei do FINANCIAL TIMES LEXICON: "windfall gains/profit
Often simple windfall. Income received due to an unforeseen event over which the recipient had no control". Adjectivações e divagações sem fundamento conhecido só responsabilizam quem delas é autor. Excepto se este for anónimo, caso em que não responsabilizam ninguém (Peço desculpa ao nosso anfitrião, a cujo critério entrego o destino deste desabafo.)

Anónimo disse...

Como o Helder disse, "Às tentativas de obter windfall gains a literatura económica anglo-saxónica dá o nome formal de rentseeking activities, e o nome informal de bribery". Sendo que "rentseeking" é rentismo e "bribery", suborno, parece que a estes ganhos estão associadas práticas duvidosas.

Quanto ao exemplo que deu, os lucros seriam inesperados se o comprador não tivesse um amigo no governo que não o tivesse informado da intenção de construir um aeroporto internacional nessa área. Caso contrário, não só seriam esperados como seriam fruto de especulação.

Creio que "lucros especulativos" traduzem melhor o sentido do termo em questão, pois são "ganhos económicos não resultantes de actividades económicas produtivas da parte do beneficiário" e traduzem melhor as práticas subjacentes à obtenção destes ganhos.