9.9.10

Como se escreve nos jornais

Humildade


      «Ao abrir a porta, Cidália deparou com as luzes acesas e o apartamento todo remexido. Foi encontrar a vítima no quarto, caída em cima da cama, cheia de sangue. Eugénia Madeira estava nua da cintura para baixo, mas, segundo o CM apurou, não terá sido vítima de sevícias sexuais» («Médica assassinada a golpes de faca», Paula Gonçalves e Gonçalo Silva, Correio da Manhã, 8.09.2010, p. 4).
      «Sevícias sexuais»... Deve ser assim que os polícias falam. Os repórteres estavam atentíssimos e apanharam tudo. Estariam mesmo? Hum... O jornalista Alfredo Teixeira, do Diário de Notícias, também lá foi e formou outra convicção: «Uma médica do Centro de Saúde Norton de Matos, em Coimbra, foi ontem, de manhã, encontrada morta em casa. Eugénia Madeira, de 55 anos, estava deitada na cama, degolada, nua e com sinais de ter sofrido sevícias sexuais» («Médica degolada na cama e vítima de sevícias sexuais», Alfredo Teixeira, Diário de Notícias, 8.09.2010, p. 16). Por outro lado, acredito mais na dupla do Correio da Manhã, que pelo menos não maltratou a gramática, ao contrário do jornalista do Diário de Notícias: «Ao mesmo tempo a PJ procurou todos os indícios do crime, confirmando ter-se tratado de um homicídio. A médica tinha o pescoço degolado, havia também sido asfixiada com uma almofada e haviam ainda indícios de sevícias sexuais» («Médica degolada na cama e vítima de sevícias sexuais», Alfredo Teixeira, Diário de Notícias, 8.09.2010, p. 16). Mais: os repórteres do CM apuraram mal os factos e a vista, pois o jornalista do DN garante que «na cama, completamente nua e com um golpe perfurante no pescoço estava Eugénia Madeira».
      Há mais alguma coisa a dizer sobre isto? Sim: nada como ler dois (ou três ou quatro) jornais para termos consciência de que não sabemos nada.

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