«As escolas que recomendaram a compra de um dicionário com palavrões aos alunos do 1.º ciclo admitem ter-se tratado de um “lapso” na indicação da cor da capa da obra da Porto Editora. Escolheram a capa azul, com a designação de Dicionário de Língua Portuguesa, mas deveriam antes ter sugerido o Dicionário Básico de Língua Portuguesa cor de laranja, que a editora garante ter elaborado “especificamente” para o 1.° e 2.º ciclos do básico. Apesar disso, as crianças dos seis aos dez anos vão continuar a usá-lo» («Dicionário com palavrões foi “lapso”», Roberto Dores, Diário de Notícias, 23.09.2010, p. 14).
Não sabia que os dicionários eram recomendados por cores. Faz lembrar os idosos, a quem se recomenda que tomem o comprimido azul de manhã, o vermelho à tarde e o amarelo à noite. Não por acaso os comprimidos não têm todos a mesma cor. Isto é que é menorizar os alunos. Que tristeza. Bem, e que palavrões são aqueles? O habitual: «Em causa está a consulta por crianças de palavras como “fo...” (acto sexual), “ca...” (órgão sexual masculino) ou “co...” (órgão sexual feminino). Este dicionário é recomendado pela editora apenas a partir do 3.º ciclo.»
Ainda hoje uma professora me disse que pedira a uma aluna para ler o verbete de um vocábulo no dicionário e a aluna, depois de ter lido algumas palavras, parou. Porquê? Na definição estava uma palavra «que não era para a idade dela». E que palavra era essa? «Sexual».
[Post 3903]
8 comentários:
Acho esta polémica incrivelmente artificial e maldosa. Que atire a primeira pedra quem, na infância ou adolescência, não foi ao dicionário saber o significado de certas palavras que ouviu aos mais velhos. Ou quem não foi porque já sabia...
Refiro-me, claro, ao dicionário lá de casa - o dos pais. E se, no meu tempo, houvesse dicionários para crianças, podem ter a certeza que iria aos outros.
«Porra, disse a marquesa, (...) mas, lembrando-se da educação que recebera na Suíça, retirou o porra e disse CHIÇA!»
Não me ocorre o termo vulgar do órgão sexual feminino que comece com "co...". Deve ser coisa de português. Alguém me ilumina nessa questão, por gentileza.
No estado em que se encontra o ensino, nenhuma idade é a ideal para uma mera consulta de dicionários. É que para se consultar, tem que se saber ler e esse objectivo só se atinge in extremis lá para as bandas do mestrado....
Caro primeiro anónimo: junte-lhe "...na". Só não escrevo tudo porque receio que criancinhas possam estar a ler isto por cima do ombro dos mestres!
É incrível como o jornal do regime cria uma polémica artificial... Presumo que não terá sido por acaso!
É que depois depois de ler o artigo no DN lembrei-me de que eu também tinha um dicionário azul da Porto Editora!Folheei-o à procura das palavras que terão chocado algumas mentes mais puritanas e lá estavam elas. Acrescento que este é o dicionário que a minha filha de 8 anos consulta cá em casa e não estou nada preocupado que ela tropece em tais palavras. Apenas ignoro as vezes que ela já as terá ouvido a colegas seus da escola. Que já as terá ouvido, disso não tenho qualquer dúvida.
Resta acrescentar que a edição do dicionário que possuo é de 2006...
Não lhe ocorre '_ _na"? Digamos, eufemisticamente, que o termo não é vulgar, apenas um 'tabuísmo informal'.
Enfim, «la chose proprement dite par excellence», como lhe chamou o presidente des Brosses, cuido que nas «Lettres d'Italie».
- Montexto
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