25.10.10

Estado da arte

Em estado de choque


      Saber é saber, mas, comparando com o conhecimento que um doutorando deve ter do que seja estado da arte, saber-se que Goethe tinha aversão a cães, ao tabaco e a pessoas que usassem óculos é completamente irrelevante. O cronograma mostrava as sete fases por que se desenvolve, ao longo de sete trimestres, a feitura da tese de doutoramento: 1. identificação da literatura relevante e estado da arte; 2. recolha de informação; 3. elaboração e execução do estudo empírico; 4. redacção do trabalho; 5. revisão do orientador; 6. correcção do trabalho realizado; 7. redacção da tese. A doutoranda pergunta-me no 5.º trimestre: «O que é isso do estado da arte?» Como é que um doutorando não sabe (não quis saber) que ao estado do conhecimento em determinada área se dá o nome de «estado da arte» ou «estado do conhecimento»? A pesquisa, o levantamento bibliográfico desse conhecimento é mesmo a parte mais importante de todo o trabalho científico, pois como se poderá ser original se não se sabe o que outros têm feito na mesma área?

[Post 4007]

3 comentários:

Anónimo disse...

Uma pequena chamada de atenção: o «estado da arte» é o próprio conhecimento em si, não a pesquisa bibliográfica que se faz sobre esse conhecimento.

Fernando Ferreira

Helder Guégués disse...

Já corrigi. A redacção da frase tinha de incluir o próprio conhecimento e a pesquisa desse conhecimento. Obrigado.

Anónimo disse...

«E em baixo, no pátio, acabando de abotoar o "paletot", Carlos pôde enfim soltar a pergunta que lhe faiscara nos lábios toda a noite:
- Ó Ega, quem é aquele homem, aquele Sousa Neto, que quis saber se em Inglaterra havia também literatura?
Ega olhou-o com espanto:
- Pois não adivinhaste? Não deduziste logo? Não viste imediatamente quem neste país é capaz de fazer essa pergunta?
- Não sei... Há tanta gente capaz...
E o Ega radiante:
- Oficial superior de uma grande repartição do Estado!
- De qual?
- Ora de qual! De qual há-de ser?... Da Instrução Pública!»
Nunca esquecer que este é o país de «Os Maias» (Biblioteca Visão, 2000, vol. II, cap. XII, p. 43), cujo autor, como se vê, permanece actual: aqui, um doutorando ignorar que coisa seja «estado da arte» insere-se pacificamente na melhor tradição clássica.
- Montexto