27.10.10

Sobre «Foão»

Impõe-se a pergunta


      Até onde foi a «modernização do texto»? Não chegou aqui: «Quando alguma pessoa se quer mudar de uma casa e rua para outra, ou quer ir para outra terra a viver, tangem uma bacia pela rua com um pregão que diz que ‘Foão se vai daquela rua, se há alguma pessoa a que[m] deva alguma coisa que venha a ele antes que se vá, para que não perca o seu.’» (Tratado das Coisas da China, Fr. Gaspar da Cruz. Introdução, modernização do texto e notas de Rui Manuel Loureiro. Lisboa: Biblioteca Editores Independentes, 2010, p. 202). Na época em que Fr. Gaspar da Cruz escrevia, era assim que se dizia o que hoje em dia dizemos «Fulano». Autores coevos também grafavam «Fuão» e «Fulão». O étimo é, segundo Miguel Nimer (Influências Orientais na Língua Portuguesa. São Paulo: Edusp, 2.ª ed., 2005, p. 73) o árabe clássico fulān. (Como saberão, o Acordo Ortográfico de 1990 também veio meter aqui o bedelho, mandando grafar com minúscula inicial «fulano», «sicrano» e «beltrano», deixando, assim, de se distinguir entre substantivo comum e substituto de antropónimo, como na citação de Fr. Gaspar da Cruz.)

[Post 4013]

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