«As castanhas assadas e o vinho novo continuam a ser protagonistas da Feira de S. Martinho, que começou ontem em Penafiel e vai prolongar-se até ao próximo dia 21 deste mês, e nem a crise faz com que os visitantes deixem de comprar um quarteirão de castanhas e beber “uma malga” de vinho. […] A dois euros o quarteirão, Fátima Sousa tem vendido “ao mesmo preço” do ano passado» («Crise não atinge castanhas e vinho novo no São Martinho», Mónica Ferreira, Diário de Notícias, 12.11.2010, p. 21).
Não sabia que as castanhas assadas eram vendidas ao quarteirão. Bem, mas há outras questões. No Correio da Manhã, lia-se isto: «Este é, aliás, o valor pago por quilo aos produtores de castanha. Nos supermercados, o preço da castanha ‘martaínha’ dispara e pode chegar a custar seis vezes mais daquilo que é recebido pelos agricultores» («Crise obriga a reduzir castanha no magusto», João Saramago, Correio da Manhã, 11.11.2010). As aspas não fazem falta, caro João Saramago. Aveleira, bária, colarinha, judia, lamela, longal, martainha, trigueira..., as variedades de castanha são grafadas como acabo de fazer. Pior ainda, o acento: «martainha» precisa tanto de acento como bainha, biscainho, Fontainhas, grainha, ladainha, Maçainhas, moinho, rainha, redemoinho, remoinho, tainha, ventoinha, etc. A semivogal i, ao ser anasalada pelo dígrafo nh, é como que autonomizada, destacada como sílaba, desfazendo assim o ditongo.
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3 comentários:
É curioso, nunca tinha pensado! De facto não bebemos as malgas de vinho nem os copos de água, mas os seus conteúdos. Decerto devíamos dizer "vou beber de um copo de água" mas seria um preciosismo inaudito...
Estou certo?
No Brasil, todos escrevem (e bebem) metonimicamente "um copo d'água"; assim mesmo, com apóstrofo (ou viracento, como está em Vera, 1631: "Tambem na prosa de necessidade avemos de usar deste apostropho, ou viraccento quando a preposição, De, se junta a outras dicções, que começão em vogal por não fazermos a escritura feia, & barbara, como alguns dizem, escrevendo: Cidade Devora...(tudo ligado como se fosse uma dicção) avendo de dizer Cidade d’Evora...” [Alvaro Ferreira de Vera, ORTHOGRAPHIA OV MODO PARA ESCREVER certo na lingua Portuguesa, Lisboa, 1631].
E bem, Sr. Paulo Araujo, e bem.
A questão foi tratada à saciedade por inúmeros gramáticos. Consulte-se «brevitatis causa», e por todos, o Civerdúvidas da Língua Portuguesa, perguntas «Copo de/com água», 10568, e «copo de água ou copo com água», 548.
Só os empregados de mesa mais lidos, e outros intelectuais, é que confrontam do alto da sua ciência o discreto e homem de bem com o «distinguo» de «copo de água ou copo com água» quando este se vê na necessidade imperiosa de lho pedir em dia de maior canícula.
- Montexto
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